O Governo de Washington Luís (1926-1930)
Ainda dentro dos princípios da "política do café com leite", foi indicado para substituir Adur Bemardes o político paulista Washington Luís, nascido no Rio de Janeiro mais atuante politicamente em São Paulo.
Sob o lema "Governar é abrir estradas", implantou a construção das rodovias Rio - São Paulo e Rio Petrópolis. Objetivando dar continuidade à política de combate a inflação de seu antecessor, Washington Luís procurou realizar uma reforma financeira que estabilizasse a moeda nacional. Para isso criou a Caixa de Estabilização, com a missão de emitir papel-moeda, lastrado no ouro que o país possuísse, ou que fosse depositado no estrangeiro em nome do Brasil. No entanto, a crise econômica mundial, reduzindo as reservas auríferas e os empréstimos de países estrangeiros, inviabilizou a Caixa de Estabilização, levando à extinção.
Com relação ao crescente movimento operário, Washington Luís declarava enadvertidamente: "A questão operária é uma questão de polícia".
Assim, o final da presidência de Washington Luís foi marcado por uma grave crise econômica em parte decorrente da situação externa. Refletida na quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, a crise abalou Estados Unidos e Europa - maiores consumidores de café e fontes de nossos empréstimos. Por outro lado a produção cafeeira atingiu uma safra recorde: mais de 26 milhões de sacas em 1928, o que provocou baixas nos preços do café. A defasagem entre a produção e a exportação cresceu tanto e a crise extrema era tão grande que o governo federal não mais conseguia dar continuidade à prática de proteção ao setor, através de empréstimos facilitados e da compra de excedentes.
Em meio a esse quadro as divergências entre as várias oligarquias acentuavam, e os arranjos políticos não conseguiam solucionar os conflitos que afloravam na economia. Os cafeicultores mineiros e fluminenses pretendiam colocar o comando da política cafeeira, que desde 1924 estava a cargo do Instituto do Café de São Paulo, nas mãos do governo federal. No Rio Grande do Sul, os produtores de charque e arroz queixavam-se do descanso do governo federal para com essas atividades. No Norte e Nordeste, os produtores de algodão, fumo de cacau faziam idênticas reclamações.
A Sucessão e Aliança Liberal
O problema criado pela sucessão, até então dividida entre São Paulo e Minas Gerais desencadeou o fira do regime.
Pela "política do café-com-leite" o futuro do presidente seria mineiro, pois Washington Luís representava os paulistas. No entanto, quebrando esse pacto, Washington Luís demonstrava clara intenção de lançar para a sua sucessão Júlio Prestes, outro paulista.
Os mineiros não aceitavam que os paulistas mantivessem o comando político brasileiro. Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas Gerais e candidato à sucessão presidencial, abriu mão de sua candidatura para uma chapa de oposição, apoiando para presidente o governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas e para vice-presidente o paraibano João Pessoa. Formava-se a Aliança Liberal, que reunia as oligarquias de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Juntou-se à Aliança o Partido Democrático (PD), formado por dissidentes do Partido Republicano paulista (PRP).
O programa da Aliança Liberal refletia as aspirações das classes dominantes regionais, não ligadas ao núcleo cafeeiro. Incorporava, ainda, reivindicações com regulamentação das leis do trabalho, a instituição do voto secreto e do voto feminino, a anistia que beneficiaria os tenentistas condenados, programa que tentava claramente sensibilizar as camadas médias. Prometia, também, dar incentivo à produção nacional em geral e não apenas ao setor cafeeiro.
Com esse programa, afirma o historiador Nelson Wemeck Sodré, "desde o momento em que a classe dominante se apresentava cindida, surgia possibilidade de recompor a aliança entre setores daquela classe e grupos atuantes da classe média, tal como ocorreram no fim do século XIX para derrotar a monarquia, e agora sob novas condições, evidentemente".
A Revolução de 30 e o Governo Provisório(1930-1934)
Nessas eleições repetiram-se as ocorrências de fraude.
A própria Aliança Liberal recorreu a esses meios durante a disputa eleitoral, ao abandonar sua promessas de combate à corrupção e seus clamores pela regeneração política do país. Exemplo dessa s1ttlação foram os resultados no Rio Grande do Sul, onde a chapa de Vargas obteve 298.627 votos contra 982 de Júlio Prestes. No cômputo geral, entretanto, a vitória coube ao candidato paulista.
As duas chapas haviam feito um acordo em que se comprometiam a respeitar os resultados. Elementos mais moderados, como João Pessoa, resignaram-se com a derrota. O político paraibano afirmava: "Prefiro dez Júlio Preses a uma revolução". Esse não era, entretanto, o pensamento de membros mais jovens das oligarquias oposicionistas unidas na Aliança Liberal. "Estou farto dessa comédia", afirmava o gaúcho Osvaldo Aranha, no que era apoiado pelo mineiro Virgílio de Melo Franco e por outro gaúcho, João Neves da Fontoura. Juntavam-se a eles tenentistas, como Juarez Távora e João Alberto, forjando, assim, uma aliança que conspirava contra a posse do presidente recém-eleito. Preocupados com a possibilidade de crescimento das agitações e com a rearticulação dos tenentistas, as oligarquias dissidentes, mesmo em seus setores mais conservadores, resolveram assumú o comando da conspiração. Impediriam, assim, que o golpe desencadeasse transformações mais radicais. "Façamos a revolução antes que o povo faça", foi o brado' de Antônio Carlos, governador de Minas Gerais.
A "degola" de muitos deputados eleitos por Minas Gerais e Paraíba e o assassinado de João Pessoa levaram as velhas oligarquias a definir-se favoravelmente ao golpe. Elas tiveram, entretanto, o cuidado de colocar na chefia do movimentos Góis Monteiro, elemento de confiança dos políticos gaúchos. A 3 de outubro de 1930 eclodia a revolta no Rio Grande do Sul, levantando-se, em seguida, os oposicionistas do Nordeste, sob o comando de Juarez Távora.
As tropas revolucionárias do Sul e as governamentais, procedentes do Norte, estavam prestes a entrar em choque em Itararé, estado de São Paulo. Na eminência de uma guerra civil, que colocaria em risco as Oligarquias, desencadeou-se um golpe militar que depôs Washington Luís formando-se uma Junta Pacificadora composta pelos generais Mena Barreto, Tasso Fragoso e pelo almirante Isaías Noronha. A Junta procurou sem êxito, manter-se no poder. Getúlio Vargas, apoiado pelos tenentes, partiu para o Rio de Janeiro e, a 3 de novembro, assumiu o governo do país.
Conforme afirma o historiados Bóris Fausto, "Era fácil saber quem perdera, mas difícil identificar o vencedor". A composição dos vencedores era muito heterogênea para possibilitar um consenso entre eles: as Oligarquias dissidentes queriam mais poder e proteção economicamente; o Partido Democrático almejava controlar politicamente São Paulo e criar um Estado Liberal; os tenentes pregavam a centralização política e a implementação de algumas reformas sociais; os adeptos civis do tenentismo pretendiam a realização de reformas sociais, mantendo a descentralização política.
Com esse quadro não era difícil prever as grandes dificuldades que teria de enfrentar o Governo Provisório recém-instalado.
Revolução Constitucionalista de 1932
A influência da ala tenentista junto ao Governo Federal revoltou a oligarquia paulista, que não aceitava a indicação do "tenente" João Alberto Lis e Barros, nomeado interventor de São Paulo. Para melhor enfrentar o Governo Federal, a oligarquia paulista formou uma "frente única", representada pela aliança do PRP (Partido Republicano Paulista) c do PD (Partido Democrático).
Eram basicamente duas as exigências feitas pelos líderes oligárquicos ao Governo de Getúlio Vargas:
· Nomeação de um interventor civil c paulista para governar São Paulo.
· Reconstitucionalização do País, isto é, que o Governo Federal convocasse de irnediato urna Assembléia Constituinte para elaborar urna nova Constituição brasileira.
Quanto à primeira exigência, o Governo Federal decidiu atendê-la, nomeando para São Paulo novos Interventores, sendo o último deles Pedro c Toledo. Esta medida, entretanto, não foi suficiente para desfazer a oposição oligárquica, pois, o que os oligarcas paulistas realmente desejavam era recuperar o poder perdido com a revolução de 1930. Por isso, insistiam na exigência de uma rápida reconstitucionalização do País c o "retomo à vida democrática". Em outras palavras, exigiam a convocação de eleições, pois ainda detinham o controle dos mecanismos eleitorais. Desta maneira, a revolta constitucionalista de 1932 teve um caráter contra- revolucionário em relação ao movimento de 1930. Mesmo assim, obteve grande repercussão não somente entre as
elites paulistas, mas também entre a classe média, atindindo a juventude universitária. De um modo geral, a classe operária manteve0-se ausente de movimento na medida cm que este representava, apenas, urna disputa entre os antigos e os atuais donos do poder.
Em maio de 1932, quatro estudantes de São Paulo, Martins, Miragaia, Dráusio c Camargo, morreram num conflito de rua, durante urna manifestação pública contra o Governo Federal. A morte dos estudantes foi utilizada para exaltar os ânimos dos paulistas. Com as letras iniciais dos seus nomes formou-se a sigla MMDC, que se tomou o ' símbolo do movimento constitucionalista.
No dia 9 de julho de 1932, foi deflagrada a ' chamada Revolução Constitucionalista. São Paulo reuniu ' todas as suas energias para lutar contra o Governo Federal. As tropas paulistas eram compostas, basicamente, por elementos da Força Pública Estadual sob o comando do general Isidoro Dias Lopes. Diversas indústrias locais passaram a improvisar a fabricação de material bélico para sustentar o movimento militar. contudo, após a Revolução ter sido deflagrada, São Paulo ficou isolado do resto do País, pois as oligarquias dos demais Estados não o acompanharam na luta, com exceção de Mato Grosso que, aderindo aos paulistas, enviou a sua ajuda militar.
Contando com o apoio do Exército, o Governo de Getúlio Vargas combateu firmemente os revoltosos. No desenrolar do conflito, ficou evidente a acentuada superioridade bélica das tropas federais, comandarias pelo general Góis Monteiro. Depois de três meses de sangrenta luta, os revoltosos paulistas foram militarmente derrotados. No principio de outubro de 1932, a Revolução Constitucionalista chegava ao seu final e Vargas consolidava-se no poder.
A Constituição de 1934
Antes de eclodir em São Paulo a Revolução de 1932, o Governo Federal já tinha tomado as primeiras providências para que fosse elaborada a nova Constituição do País e a Nação retomasse à legalidade constitucional. Com efeito, em 24 de fevereiro de 1932, o Governo Federal já tulha decretado o novo Código Eleitoral e marcado dia para a eleição da Assembléia Constituinte.
Encerrada a Revolução de 1932, e seguindo as determinações do Código Eleitoral, foram realizadas, e maio de 1933, as eleições para a escolha da Assembléia Nacional. No dia 16 de julho de 1934, terminou o trabalho da Assembléia e foi promulgada a nova Constituição do País. Entre as suas principais inovações podemos destacar as seguintes:
· Estabelecimento do voto secreto para a eleição dos candidatos aos poderes Executivo e Legislativo. O direito de voto foi expressamente garantido à mulher. Não tinham direito ao voto: os analfabetos, os mendigos, os militares até o posto de sargento e as pessoas privadas dos direitos políticos.
· Foi criada urna Justiça Eleitoral para zelar, com independência, pelo bom desempenho das eleições a serem realizadas no País.
· Estabelecimento dos direitos trabalhistas fundamentais, com, por exemplo, salário mínimo, jornada não superior a oito horas, proibição do trabalho de menor de 14 anos, férias anuais remuneradas, indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa etc.
· Determinação de que as riquezas encontradas no subsolo brasileiro seriam propriedade do Governo da União, bem como outras riquezas naturais economicamente exploráveis, como quedas d'água capazes de gerar energia hidrelétrica etc.
Nas suas disposições transitórias, a Constituição de 1934 estabelecia que o primeiro Presidente da República seria eleito pelos membros da Assembléia Nacional Constituinte, para exercer mandato de quatro anos, encerrando-se em 3 de moio de 1938. Nessa primeira eleição, Getúlio Vargas foi eleito Presidente da República.
O Governo Constitucional (1934-1937)
Durante o período em que Getúlio Vargas governou constitucionalmente a Nação, dois grupos políticos, com ideologia totalmente diversas, ganharam destaque na vida pública brasileira. Tratava-se da Ação Integralista Brasileira (integralismo) e da Aliança Nacional Libertadora (aliancismo).
Examinemos, rapidamente, alguns princípios do integralismo e do aliancismo.
Integralismo
Contando com o apoio das oligarquias tradicionais e de alguns setores elitistas da igreja Católica, o escritor
Plínio Salgado criou a Ação Integralista Brasileira, versão brasileira do nazi-fascismo. Em 1932, Plínio Salgado redigiu uru Manifesto à Nação, contendo os princípios básicos do integralismo. Era urna espécie de cópia, adaptada ao Brasil, das idéias básicas do regime
fascista de Benito Mussoline e do nazismo de AdolfHiúer. Eram termos gerais, o integralismo defendia:
· Combate brutal ao comunismo.
· Nacionalismo extremado.
· Estado onipotente, com rígida disciplina e hierarquia.
· Extinção dos partidos políticos e a entrega do poder a um único chefe.
· Fiscalização das atividades artísticas, para moldá-las aos ideais integralistas.
O lema dos integralistas era "Deus, Pátria e Família". Um lema bastante popular que servia para encobrir a verdadeira face autoritária do integralismo. Sob muitos aspectos, os conceitos de Deus, Pátria e Família era distorcidos:
DEUS:
Usava-se a religião para despertar no povo humilde um sentimento de resignação e conformismo diante dos problemas sociais e da exploração dos poderosos.
PÁTRIA:
Representava a defesa de uru nacionalismo fanático e agressivo. Nacionalismo suspeito, na medida em que a própria ideologia integralista era um "produto" importado.
FAMÍLIA:
Defendia-se uma sociedade em que a família seria submetida hierarquicamente ao Estado.
Os integralistas apreciavam demonstrar disciplina, hierarquia e organização. Distinguia-se pelos símbolos que usavam a cenas formas de saudação que, em tudo, lembravam os sinistros rituais nazi-fascistas.
O principal grupo político contrário aos integralistas era a ANL (Aliança Nacional Libertadora), cujos membros (aliancistas) eram apoiados pelo Partido Comunista Brasileiro, por diversos líderes sindicais e por líderes tenentistas. Luis Carlos Prestes, que se tomou adepto do marxismo-leninismo, foi eleito em abril de 1935, presidente de honra da Aliança Nacional Libertadora.
A ANL era uma frente de oposição ao fascismo e ao imperialismo composta de comunistas, socialistas e liberais antifascistas com propostas amplas de caráter popular e revolucionário. Declarava-se contrária, por exemplo, ao latifúndio, a favor da nacionalização das empresas estrangeiras, bem como à suspensão do pagamento da dívida externa. Em pouco tempo, a ANL já contava com mais de seis mil sedes espalhadas pelo País.
Temendo a expansão dos aliancistas e a repercussão de suas idéias. o Governo Federal, apoiado pelas classes economicamente dominante, decretou o fechamento da sede da Aliança Nacional Libertadora, em 11 de junho de1935. O chefe de polícia de Vargas, Filinto Muller, acusava o movimento de ser controlado por "perigosos comunistas" e financiado por estrangeiros.
A Intentona Comunista
A extinção da ANL provocou a reação de alguns setores militares ligados ao Partido Comunista Brasileiro.
Em novembro de 1935, eclodiu a chamada Intentona Comunista, ou seja, rebeliões militares em batalhões do Rio Grande do Norte, de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Todas elas foram prontamente dominadas pelas forças governamentais.
A reação armada dos revoltosos ofereceu ao Governo o pretexto que ele queria para agir energicamente contra os líderes de esquerda, destacadamente Luis Carlos Prestes, que foi preso em março de 1936. Juntamente com Prestes, também, foram presas, em nome do "perigo comunista" diversos sindicalistas, operários, militares e intelectuais, supostamente envolvidos em atividades contra o Governo.
O Governo Ditatorial (1937 - 1945)
Fazendo grande alarde sobre a "ameaça comunista", Getúlio Vargas decretou o Estado de Guerra, que consistia na suspensão dos direitos e garantias individuais. Com isso, as perseguições políticas aumentaram e as forças populares foram desarticuladas.
Aproximava-se a data das eleições presidenciais e Vargas estava decidido a continuar no poder. As oposições políticas de São Paulo tinham lançado a candidatura de Armando de Salles Oliveira, para disfarçar suas verdadeiras intenções, Getúlio demonstrava aceitar o jogo democrático, apoiando a candidatura do escritor paraibano José Américo de Almeida. Enquanto isso, o governo tratava de arrumar um pretexto para suspender o processo democrático. Com a ajuda dos integralistas, inventou-se que os comunistas programavam uma terrível ação (denominada Plano Cohen) que objetivava a derrubada do
regime, assassinando várias autoridades políticas da Nação. O Plano Cohen foi forjado com a participação do militar integralista Olímpio Mourão Filho, sendo divulgado ao público como um plano comunista descoberto pelo serviço secreto do Exército.
Em fins de setembro de 1937, o falso plano foi noticiado com grande estardalhaço pelos jornais, criando clima favorável para que Getúlio Vargas decretasse um novo Estado de Guerra, prendendo todos os possíveis adversários do regime.
No dia 10 de novembro de 1937, Vargas ordenou o cerco militar ao Congresso Nacional, determinando o seu fechamento. Na mesma noite, por uma cadeia de rádio, ele anunciou ao povo brasileiro uma autoritária Constituição para a República, que substituiria a Constituição Liberal de 1934. Elaborada pelo jurista Francisco Campos, a nova Constituição imposta à Nação ganhou o apelido de "Polada", pois tinha como modelo principal a Constituição fascista da Polônia. Decretada essa Constituição, iniciou-se o período que ficou conhecido como Estado Novo.
A Constituição de 1937
A estrutura jurídica do Estado Novo tinha como alicerce básico a Constituição de 1937 que, logo no seu preâmbulo, procurava justificar sua necessidade em função de um suposto perigo de guerra civil e ao estado de apreensão criado pela infiltração comunista. Para tudo isso, afirmava ser necessário remédio de caráter radical e permanente. Vejamos, na prática, quais as principais substâncias que compunham esse remédio ditatorial:
· Prorrogação do mandato presidencial para seis anos.
· Nomeação de Interventores para a chefia dos Governos Estaduais.
· Proibição de qualquer tipo de greve, que eram consideradas recursos anti-sociais.
· Vinculação direta dos sindicatos ao Governo.
· Criação do Conselho de Economia Nacional, que, entre outras funções, deveria promover a organização corporativa da economia nacional, emitir parecer sobre todos os projetos governamentais, editar normas reguladoras dos contratos coletivos de trabalho etc.
Criação do Conselho Federal, presidido por um Ministro de Estado designado pelo Presidente da República, competindo a este órgão, entre outras funções, supervisionar a política externa brasileira (tratados e convenções internacionais).
Durante o Estado Novo, o Governo pôde exercer uma ação energética e vigorosa contra seus adversários. Em todo o País vigorava o estado de emergência, pelo qual o Governo podia invadir domicílios, prender pessoas e expulsar do País os líderes oposicionistas. Para assegurar o controle da Nação, o Estado Novo impôs a censura prévia dos meios de comunicação, como jornais, rádio, teatro e cinema. Esta severa censura era exercida pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Foi o DIP que criou a "Hora do Brasil', programa radiofônico obrigatório, transmitido em cadeia nacional por todas as estações de rádio das 19h às 20h. Na época, a Hora do Brasil alcançava grande audiência, pois transmitia além dos discursos de Getúlio Vargas e seus Ministros, apresentações com famosos artistas, como Francisco Alves, Carmem Miranda e Heitor Villa-Lobos.
A Intentona Integralista
Menos de um mês após a instalação do Estado Novo, em 3 de novembro de 1937, Getúlio Vargas desferiu um rude golpe nos seus aliados da véspera, os integralistas. Ordenou o fechamento da AIB (Ação Integralista Brasileira), pois o caráter dogmático e inflexível dessa organização não se compatibilizava com o estilo populista de Vargas, um verdadeiro mestre da arte política. Inconformados com a repressão do governo, os integralistas planejaram uma conspiração armada, visando a conquista do poder. Em março de 1938, os integralistas começaram a se organizar, mas seus planos foram descobertos e desbaratados pelo Governo. Pouco tempo depois, eles tentaram um novo golpe que incluía um ataque ao Palácio Guanabara, residência de Vargas, para capturar o Presidente. O ataque foi desfechado na madrugada do dia 11 de maio de 1938, mas a tropa integralista não conseguiu vencer a resistência empreendida pela guarda palaciana. Fazendo uso de um telefone secreto, a filha de Getúlio, Alzira Vargas, pediu socorro policial para defender o Palácio. Pela manhã, chegaram as tropas fiéis ao Governo, comandadas por João Alberto e Cordeiro de Farias, o que obrigou a total rendição da tropa integralista. Depois de presos , muitos dos rebeldes foram sumariamente fuzilados, nas imediações do Palácio.
Nos dias seguintes à rebelião integralista, o Governo investiu energicamente contra os principais membros da organização. Mais de setecentas pessoas foram presas e enviadas para o cárceres do Estado Novo, onde tiveram que conviver com os inimigos comunistas que tanto combateram. O líder integralista Plínio Salgado, depois de preso em São Paulo, não sofreu as mesmas punições dos seus companheiros. Foi-lhe permitido exilar-se em Portugal, além de receber uma pensão oficial do Governo brasileiro, destinada à sua manutenção.
A Economia durante o Estado Novo
A crise mundial de 1929 tinha balado profundamente a economia cafeeira. Tornava-se cada vez mais absurda a continuidade da política de valorização artificial do produto, pois os estoques aumentavam dia a dia, juntamente com as dívidas externas do Governo. Na tentativa de reequilibrar os preços de café, Vargas tomou uma solução drástica: ordenou a queima de milhões de
sacas de café guardadas em depósitos do Governo. Com estas medidas conseguiu provocar uma cena normalização dos preços do produto no mercado internacional.
Agindo em outros setores da agricultura, o Governo Vargas tomou medidas para proteger produtos como o algodão, o açúcar e a borracha. Todavia, o setor agrícola, mesmo recebendo substancial ajuda do Governo, conheceu um período de crise, motivado em grande parte pelas dificuldades econômicas da conjuntura mundial. A
crise de 1929 continuava a subsistir em seus efeitos, "o que levava gradativamente os diversos grupos regionais agrícolas ao abandono de parte de suas lavouras, à venda ou à perda de suas propriedades. A época áurea da agricultura começou a desaparecer, mas ainda a decadência não foi totalmente trágica".
Contrastando com a atividade agrícola, o setor industrial manteve-se em ascensão. O fator externo que mais colaborou para isso foi a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante esse período, o comércio internacional se desorganizou, dificultando a importação brasileira de produtos industrializados. Seguindo o processo de substituição de importação, as indústrias nacionais diversificaram suas atividades, para suprir as necessidades do nosso mercado interno. Participando ativamente do incentivo ao processo de industrialização, o Governo interveio na economia e colaborou com os empresários industriais, incrementando as áreas de infra-estrutura econômica que os particulares não podiam desenvolver.
Os principais empreendimentos do Estado Novo que revelam ênfase no desenvolvimento industrial foram:
· Usina de Volta Redonda: a construção, no Rio de Janeiro, da Usina da Volta Redonda, pela Companhia Siderúrgica Nacional. Sem o aço fornecido por essa Usina, era impossível desenvolver a industrialização de forma autônoma. Antes da construção da Usina de Volta Redonda, o Brasil dependia totalmente do exterior para obter matérias-primas para os produtos industrializados.
· Companhia Vale do Rio Doce: a criação da Companhia Vale do Rio Doce, destinada à exploração do minério de feno de Minas Gerais. O minério de feno abastecia a Usina de Volta Redonda e também era exportado em grande quantidade.
Em linhas gerais, podemos dizer que foi no Estado Novo que a Indústria, enquanto setor econômico, superou efetivamente as atividades agrícolas, embora as oligarquias agrárias ainda tivessem grande parcela de poder político, na medida em que herdavam, de longa data, o controle do sistema burocrático que compunha o aparelho do Estado.
O Fim do Estado Novo
O Governo de Vargas procurou, o quanto pôde, manter o País afastado de conflitos da Segunda Guerra Mundial. Mas alguns incidentes navais (afundamento de navios brasileiros), pressões dos Estados Unidos e a crescente oposição interna ao nazi-fascismo levaram o Governo a declarar guerra às potências do eixo (Alemanha, Itália e Japão) a 22 de agosto de 1942.
Com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, por intermédio da FEB 9a Força Expedicionária Brasileira, criava-se urna situação contraditória para o Estado Novo. O País vivia, internamente, sob urna ditadura e importantes membros do Governo, como o ministro da Justiça Francisco Campos e o Chefe de Polícia Filinto Muller eram notórios sirnpatizantes dos nazi-fascismo. Desta maneira, a luta do Brasil contra o
fascismo externo também foi aproveitada pelos grupos brasileiros de oposição para denunciar o "fascismo" interno, acobertado pelo Estado Novo.
À medida que as potências liberais foram derrotando militarmente as potências do eixo, um clima favorável às idéias democráticas foi-se espalhando pelo mundo e, pouco a pouco, afetando as rígidas estruturas do Estado Novo. Sentindo a onda liberal que varria a Nação e o mundo, Getúlio Vargas promoveu urna reforma constitucional, em 28 de fevereiro de 1945 - antes do fim da Guerra. A reforma representou a "abertura política" do Estado novo. O Governo reconhecia que existiam condições necessárias para o funcionamento dos órgãos representativos. Renascia a vida partidária, sendo fundado diversos partidos: UDN (União Democrática Nacional); PSD (Partido Social Democrático); PTB (Partido Trabalhista Brasileiro); PSP (Partido Social Progressista); PCB (Partido Comunista Brasileiro). Marcou-se a data, para as próximas eleições presidenciais, onde concorriam dois fortes candidatos, o general Eurico Gaspar Dutra e o brigadeiro Eduardo Gomes.
Promovendo medidas redemocratizantes, Getúlio Vargas conseguiu despertar a simpatia de crescente número de pessoas. Surgiu, então, um grande movimento denominado queremismo, palavra derivada dos gritos populares de "Queremos Getúlio", o próprio Partido Comunista com a ditadura Vargas, prestava, neste momento, seu apoio a Getúlio, Este, aproveitando-se da onda de prestígio popular, procurou consolidar sua imagem nacionalista. No mês de junho de 1945, decretou Urna lei antitruste, destinada a dificultar as atividades do capital estrangeiro no Brasil.
Perdendo o apoio do Exército e das classes dominantes, Getúlio Vargas buscava sustentar-se nas massas populares, promovendo urna política nacionalista. Percebendo-se as manobras políticas de Vargas, o conjunto dos setores oligárco-burgueses temiam sua continuidade no Governo, Decidiram, então, articular um golpe para derrubá-lo do poder.
No dia 29 de outubro de 1945, tropas do Exército cercaram a sede do Governo, e obrigaram a renúncia de Vargas. Este não sofreu, contudo, nenhuma punição, podendo retirar-se tranqüilamente para sua fazenda em São Borja, no Rio Grande do Sul. É preciso notar que o golpe de outubro de 1945 não atingiu apenas a ditadura do Estado Novo, mas, sobretudo, as grandes massas
populares que, naqueles momentos, apoiavam a política nacionalista de Vargas.
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