quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

REVISÃOZÃO: PRÉ - HISTÓRIA.

Povoamento das Américas

Dois estudos publicados em 2003 concluem, um deles que a data máxima de entrada se seres humanos na América ocorreu há 18 mil anos . O outro afirma que a migração ocorreu de forma rápida e que os avós dos índios chegaram à América do Sul há 14 mil anos . As conclusões são baseadas na genética e deixam claro que não se confirmam as evidências da presença há 30 ou 40 mil anos.
Um trio de cientistas da Universidade da Flórida calcularam no início de 2008 que os humanos permaneceram na Beríngia por 20 mil anos . A Beríngia , zona atualmente submersa , ligava os continentes asiático e americano . Para Sandro Bonatto , geneticista da PUC RS e seus colaboradores esta estimativa está errada . “ Hoje nós sabemos , via dados genéticos , que eles ficaram um tempo parados na Beríngia . Mas só para dizer que isso foi por mais de cinco mil anos “ ( F S P , 22.09.2008, p. A-17) .
Estudo liderado por Maria-Cátira Bortolini , da Universidade Federal do Rio Grande do Sul usando amostras de DNA de 438 indivíduos de 24 etnias americanas - a maioria da América do Sul e de 404 nativos da Mongólia , conclue-se que o povoamento do continente além de recente , aconteceu rápido , a chegada tendo ocorrido há 14 mil anos , pouco tempo mais do que a idade de Luzia que tem 13 mil anos . A dispersão foi rápida pois eles não tinham competidores . Detectou-se a mutação M42 em vários grupos sul-americanos e datando a origem genética descobriu-se que da origem , na Ásia Central , à ocupação na América do Sul transcorreram apenas 5 mil anos.
O grupo encontrou ainda uma surpreendente estabilidade dos primeiros ocupantes . Os índios ticunas , do Amazonas , por exemplo , são um grupo único e provavelmente habitam a mesma região há 8 mil anos , contradizendo a idéia de formação recente .
Outro grupo liderado por Mark Seielstad , da Escola de Saúde Pública Harvard descobriu que uma mutação, batizada de M242 , está presente em todos os índios americanos e também em populações da Ásia Central . A mutação ocorreu antes que as primeiras levas de migrantes viessem para a América daí ser possível fazer a datação com relativa precisão .
Os dois estudos são compatíveis com as descobertas arqueológicas, pois não há sítios críveis com antiguidade superior à apontada . ( F S P 4.8.2003, p. A-11) .

Dois componentes biológicos
Segundo Walter Neves da USP e Hector Puccianelli ocorreram duas levas migratórias que resultaram no povoamento das Américas.
A primeira leva refere-se a um grupo de morfologia generalizada , descendentes diretos dos primeiros Homo Sapiens que saíram da África há mais ou menos 70.000 anos . Este grupo teria chegado ao Sudeste Asiático há aproximadamente 60.000 anos , e de lá se bifurcado . Parte dessa população teria descido para o Sul e colonizado a Austrália ; a outra teria seguido para o Norte e cruzado o estreito de Behring entre 14 e 15 mil anos atrás e dando origem aos grupos paleoíndios . ou negróides .
Há mais ou menos 20 mil anos teriam surgido no Leste da Ásia os primeiros mongolóides , que cruzaram o Estreito de Behring há cerca de 12 mil anos , e colonizaram as Américas , substituindo os paleoíndios e dando origem aos grupos ameríndios atuais .
É possível que o contato entre os dois grupos , gerando competição tenha provocado guerras , ou que os paleoíndios tenham sido totalmente absorvidos pela população mongolóide , supostamente muito mais numerosa , por meio da miscigenação .
As diferenças morfológicas entre os dois grupos são evidentes no crânio . Os paleoíndios, dotados da chamada morfologia generalizada , tendem a apresentar um formato de cabeça semelhante aos atuais australianos, melanésios e africanos subsaarianos . Visto de cima , o crânio é estreito e longo, lateralmente alongado , com face proeminente , nariz baixo e largo e órbitas baixas . A morfologia asiática , ou mongolóide é o oposto . Visto do alto o crânio é bem redondo , lago e curvo com cara chata , nariz alto e estreito e órbitas altas .
Descobertas recentes tem encontrado datações pré-Clovis ( sítio arqueológico mais antigo antes conhecido, localizado no Novo México , EUA , segundo o qual o homem entrou na América há no máximo 12 mil anos e que se tornou um paradigma) em sítios arqueológicos.
O mais impressionante , superando o de Monte Verde passou a ser o sítio Topper , na Carolina do Sul . O sítio havia sido escavado nos anos 80 por Albert C. Goodyear que inicialmente achou vestígios da cultura Clóvis . Novas escavações feitas recentemente localizaram ferramentas de pedra de pelo menos 16.000 anos . ( F S P 30.06.2004, p. A-16) .
” O sítio de Monte Verde, no sul do Chile, revelou um acampamento utilizado por 20 a 30 pessoas com 12,5 mil anos de idade, mais de mil anos antes de Clóvis , escavado pela equipe de Tom Dillehay, da Universidade de Kentucy. Para estar no Chile 12,5 mil anos atrás, uma população migrante teria de ter migrado da Ásia para a América pelo estreito de Bering, há cerca de 20 mil anos .Teoricamente seria possível uma vinda por mar. Os povos das ilhas do Pacífico têm uma grande tradição de navegação oceânica. Mas não há fósseis indicando essa passagem” (F.S.P. 5.4.98, Mais p.5-4).

Luzia
A evidência mais antiga de povoamento no Brasil e na América Latina foi divulgada recentemente. É “Luzia”, alusão a Lucy , descoberta em 1975 e pertencente à coleção de fósseis encontrados no sítio de Lapa Vermelha, na região de Lagoa Santa em Minas Gerais e que foi estudada por Walter Neves, pesquisador da USP é que descobriu que a idade presumida do crânio é entre 10.200 e 11.500 anos e que Luzia “exibiu uma afinidade morfológica indiscutível, primeiro com africanos e , em segundo, com populações do Pacífico Sul”(F.S.Paulo 5.4.1998, Mais p.5-4). Luzia , com 1,50 m de altura, cuja face foi reconstituída na Universidade de Manchester na Inglaterra possui feições negróides, nariz largo, queixo e lábios salientes, bastante diferente dos atuais índios brasileiros e é uma prova evidente de que o grupo que viveu onde foi descoberta não era antepassado dos atuais índios brasileiros. (Revista Veja, 20.8.99, p. 80-87). Foi reconstituído também o espécime HW-04 , o Luzio , também com o mesmo padrão de Luzia . Lagoa Santa foi ocupada de 11,5 mil até 7,5 mil anos e depois totalmente abandonada , só voltando a ser habitada a mais ou menos 2.000 anos .
Em 2003 foram localizados crânios com características semelhantes aos de Luzia , no Estado da Baixa Califórnia do Sul , no México. São da tribo pericus , que ocuparam a região em isolamento quase completo até serem dizimados , a partir dos anos 1530 , pelas doenças dos conquistadores espanhóis. ( F S P 4.9.2003, p. A-15) Crânios semelhantes foram localizados também no Vale do Ribeira em São Paulo ( 1 crânio de 8.900 anos , conhecido como Capelinha 2 ) e um crânio na Bahia , Argentina e Chile , além de 12 na Colômbia . Já existem mais de 80 crânios analisados com indiscutível morfologia paleoíndia .
Walter Neves , Mark Hubbe da USP e Gonzalo Correal da Universidade Nacional da Colômbia , em estudo publicado no “ American Journal of Physical Anthropology , analisaram 74 crânios humanos achados na região de Sábana ( cerrado ) de Bogotá. Os esqueletos datam de dois períodos distintos : um de 11.000 a 6.000 anos atrás e outro de 5.000 a 3.000 anos atrás . Porém , diferentemente do que foi descoberto no Brasil , os paleoíndios não foram exterminados pelos mongolóides . Um dos crânios encontrados na amostra recente é claramente mongolóide . Isso sugere que os paleoíndios formaram uma sociedade estável e longeva na Savana de Bogotá , e conviveram lado a lado com os recém-chegados mongolóides . ( F S P , 16.06.2007 , p. A-27) .
A tese de Luzia teve um importante reforço com uma nova análise de um destes crânios conhecido como Mulher de Peñón , desenterrado no deserto da Baixa Califórnia , com 12,7 mil anos , feita pela arqueóloga mexicana Silvia González da Universidade John Moores , no Reino Unido e a forma do crânio indica sua aproximação com o de Luzia e de que ambos são semelhantes aos dos aborígenes australianos e os melanésios . ( F S P 14.09.2004 , p. A-14 ) .
Em Lagoa Santa foram medidos 81 crânios e todos tem o mesmo padrão morfológico . É a maior amostra de crÂnios de uma mesma região reunidas em estudos desse tipo . Todos tem morfologia claramente diferente daquela que se observa nos grupos de nativos americanos . Para se ter uma idéia do significado desta amostra , em toda a América do Norte existem apenas cinco crânios paleoíndios .
As três levas posteriores , foram formadas por povos mongolóides. Uma segunda leva surgiu há 13.000 anos , formada por mongóis siberianos , que atravessaram o Estreito de Bering e da qual descendem os índios atuais . Uma terceira leva , entre 10 e 5.000 anos , dos Na-dene , povo que se estabeleceu na costa oeste americana. Uma quarta leva , na mesma época, de esquimós.
A tese de Neves é que os mongolóides ancestrais substituíram totalmente os paleoíndios , numa espécie de guerra de extermínio . O povo de Luiz teria se refugiado em áreas remotas do continente , onde viveu isolado até a extinção. A questão é se houve uma substituição total ou houve uma fusão. ( F.S.P. 25.09.2000 , p. A-18).
Estudos genéticos feitos por Sérgio Danilo Pena da Universidade Federal de Minas Gerais concluem que todos os povos existentes na América antes da chegada de Colombo vieram da Ásia , descendendo de quatro "Evas" genéticas , porém com diferenças biológicas que mostram não ter havido uma única leva migratória e que a migração ocorreu no sentido norte sul , pois todas as características genéticas dos índios da América do Sul são encontradas nos da América do Norte , mas o contrário não é verdadeiro. ( Veja, 31.01.96, p. 48-51) .
A tese de Neves é corroborada por datações feitas em ossos escavados por Prous no sítio no sítio de Santana do Riacho 1 , entre 1976 e 1979 , datados entre 8.500 e 9.500 anos e que foram identificados no mesmo grupo ao qual pertencem os zulus, os australianos , os tasmanianos e Luzia . ( F S P Mais 3.6.2001, p. 25) .
Arqueólogos do museu de História Natural de Santa Bárbara nos EUA , comprovaram pela análise de 2 ossos da coxa de uma mulher batizada de Arlington, encontrada na Califórnia que sua idade é de 13.000 anos ( Revista Veja, 21.4.99. p. 66) .
Outro estudo feito por um grupo liderado pelo antropólogo argentino Rolando González-José da Universidade de Barcelona, Espanha com base em técnicas estatísticas aplicadas à genética das populações , com 656 crânios de 16 populações asiáticas e ameríndias conclui que a diversidade genética não pode ser explicada por modelos que evocam uma migração única ou três migrações mongolóides distintas , reforçando também a tese de Neves . ( F S P 2.11.2001,p. A-11) .
Segundo Fabrício Santos, geneticista da UFMG , pesquisas genéticas comprovam a origem siberiana dos índios brasileiros , mais especificamente da etnia dos Kets, no rio Ienissei, na Sibéria Central ( F.S.P. 11.3.99, p. 1-18).
Porém tudo ainda está por esclarecer. Estudo feito por pesquisadores brasileiros de várias instituições , com base no DNA mitocondrial de nove tribos sul-americanas conclui que os ancestrais deixaram a Ásia há 21 mil anos em uma única leva migratória . ( F S P 6.7.2002, p. A-13) .
Bibliografia : Neves, Valter Alves e Pilo, Luiz Beethoven . “ O Povo de Luzia – Em Busca dos Primeiros Americanos “ . Ed. Globo .
Além deste modelo , outros buscam explicar a povoação da América.

Três ondas migratórias
Proposto pelo linguísta Joseph H. Greenber e por Christy Turner em 1986 defende que os povoadores vieram pelo estreito de Behring em 3 migrações : uma originou os ameríndios ( a maior parte dos índios atuais) , outra , os falantes de línguas do tronco na-dene (Alasca) e a última, os esquimós do Ártico ;
Os ameríndios deram origem à maioria das populações atuais , dos ianomâmis aos maias .

Clóvis First
Origem única - proposta feita inicialmente pelo checo naturalizado americano Ales Hrdlicka ( 1869-1943) , em 1925 em um artigo The Neardental Phase of Man , que supõe que um único grupo , de traços asiáticos ( mongolóides) , tenha dado origem á diversidade genética dos americanos nativos , atravessando uma ponte terrestre entre Ásia e América do Norte durante a Era do Gelo há 11.500 anos data de um sítio no Novo México onde pontas de lanças características foram achadas associadas a ossos de mamute ..
Esta teoria foi definitivamente sepultada pelos americanos Michael Waters e Thomas Stafford Jr . que revisitando 25 sítios escavados nos anos 1960 e 1970 com tecnologia avançada de carbono 14 e espectometria de massa comprovaram que a cultura Clóvis é bem mais jovem que se imaginava , começando há 11.050 anos e extinguindo-se por volta de 10.800 anos atrás . Segundo Waters ,uma duração tão curta tornaria impossível a esta cultura ter se dispersado por 14.000 km de continente americano . O sítio de Monte Verde , na Patagônia chilena tem 12.500 anos e é hoje reconhecido universalmente como a mais antiga ocupação humana das Américas . ( F S P 22.02.2007 , p. A-12) .
Fezes humanas , coprólitos, encontrados em uma caverna no Estado de Oregon , tiveram o seu DNA datado e confirmam que os humanos estavam na América do Norte há 14 mil anos , portanto antes da chamada cultura Clóvis . ( F S P , 4.4.2008 , p. A-14) .
Existe uma outra tese , defendida pela antropóloga Niède Guidon a partir de suas pesquisas no Parque Nacional da Serra da Capivara , a 30km ao sul de São Raimundo Nonato ( sudeste do Piauí ) , de que a entrada humana nas Américas teria ocorrido há 70 ou 80 mil anos , pois haveria evidências de ocupação no sítio da Pedra Furada de 60.000 anos. Porém , o carvão datado pela pesquisadora , segundo seus críticos , teria sido resultado de combustão espontânea e não de uma fogueira pré-histórica.

Clóvis in Context
A antropóloga Anna Roosevet , da Universidade de Illinois apresentou nova teoria em 2003 dizendo que os primeiros humanos vieram à América da Ásia há 12 mil anos como a teoria Clóvis , mas não apresentavam características culturais e tecnológicas únicas que depois se espalhariam por todo o continente . Para ela os caçadores gigantes que habitavam Clóvis não seriam os primeiros colonizadores americanos, mas só uma das várias adaptações dos migrantes para sobreviver ao novo ambiente .
Ela contesta a teoria Pré-Clóvis afirmando que todos os sítios que suportam esta teoria tem datas esquisitas , ou seja , problemas de datação por decaimento radioativo ( carbono 14) e de análise de dados .( F S P 17.02.2003 , p. A-12) .
Um trabalho publicado em 2007 por cientistas chilenos e neozelandeses , mostrou que os povos ilhéus do Pacífico podem ter chegado ao continente pelo menos cem anos antes de Cristóvão Colombo . E levando frangos vivos na bagagem pois um fóssil de frango de 500 anos foi encontrado , em meio de mais de 50 fragmentos no sítio arqueológico de ElA renal , na península de Arauco no centro do Chile e tem a constituição genética semelhante à de galinhas domésticas atualmente existentes na Polinesia . O conquistador espanhol Francisco Pizarro , afirmou ter visto sacerdotes incas usarem galinhas em sacrifícios em 1532 no Peru . . Até antes desta descoberta muitos historiadores defendiam a idéia de que os galinhas teriam sido introduzidas pelos próprios espanhóis . Havia apenas evidências circunstanciais de uma conexão cultural direta entre polinésios – poços do Sudeste Asiático e nativos sul-americanos . Lingüistas já haviam identificado similaridades na fala de alguns povos , e antropólogos já haviam apontado a presença de espécies de plantas americanas nas ilhas do Pacífico muito antes da expansão ultramarina espanhola e portuguesa como a batata doce e a cabaça . ( F S p 5.6.2007 , p. A-18) .

Três ondas incluindo Luzia
Trabalho divulgado on-line em maio de 2008 na revista “American Journal of Physical Antropology , questiona tanto a identidade de Luzia quanto o modelo de três migrações . O trabalho foi feito pelo antropólogo argentino Rolando González-José , do Centro Nacional patagônico , e os geneticistas brasileiros Fabrício Santos (UFMG) , Maria Catira Bortolini (UFRS) e Sandro Bonatto (PUC-RS).
Os pesquisadores analisaram mais de 10 mil dados genéticos e 576 medidas de crânios de populações extintas e atuais do Novo e Velho Mundo .
Segundo a nova teoria , os índios americanos descendem todos de uma única população , que imigrou da Ásia há cerca de 18 mil anos vinda da Beríngia , um corredor de terras emersas entre o Alasca e a Sibéria , onde havia permanecido por milhares de anos. Essa população era variável o suficiente para acomodar vários tipos de crânio .
Os índios atuais não seriam mongolóides típicos e sim variações dessa diversidade ancestral . Longe de serem populações isoladas , Luzia e seus “parentes” , como os índios pericus , do México , seriam apenas representantes mais extremos desse “caldo” biológico único .
Uma troca recente de genes entre populações asiáticas e americanas do Ártico teria produzido as formas extremamente “mongolóides” dos esquimós e dos aleutanos , habitantes da zona circumpolar . Essa “mongolização” excessiva no Ártico . acaba fazendo com que a média das populações indígenas atuais pareça artificialmente asiática .
O novo modelo reconcilia as evidências arqueológicas e o registro fóssil com a genética .
A tese de Luzia vinha encontrando resistências entre os geneticistas , porque as análises de DNA falhavam em explicar como os paleoíndios se extinguiram sem deixar rastro genético nenhum em populações atuais. O novo estudo conclui que há uma migração principal que explica 98% de toda a diversidade genética das Américas . ( F S P , 20.05.2008 , p. A-19) .
(Edson Pereira Bueno Leal in USINA DE LETRAS)

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