“A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer.” (Peter Burke)
sexta-feira, 8 de julho de 2011
É. PODE SER...
Volta à Venezuela fortalece Chávez, mas reeleição é dúvida, dizem analistas
Claudia Jardim
De Caracas para a BBC Brasil
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fortaleceu sua posição política após sua volta ao país nesta segunda-feira, mas seu atual estado de saúde ainda gera incerteza quando à sua capacidade de enfrentar mais uma campanha presidencial em 2012, disseram analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Chávez permaneceu quase um mês em tratamento de saúde em Cuba. No dia 30 de junho, ele admitiu que foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor cancerígeno na região pélvica, mas até agora não se sabe publicamente qual a gravidade do tumor.
Em suas primeiras declarações ao retornar à Venezuela, o presidente disse que esse é o "início do retorno" e que continuará cumprindo um rigoroso tratamento médico que inclui, além de medicamentos, repouso e dieta. “Essa (o tratamento) é uma das maiores responsabilidades que assumi. Sou disciplinado", disse.
Se cumprir com a promessa, as aparições públicas de Chávez tendem a se limitar a reuniões televisadas. Atos públicos fora da capital podem ser assumidos, em sua maioria, pelo vice-presidente Elias Jaua, e a capacidade de o presidente fazer campanha ficaria comprometida.
‘Unidade’
Segundo analistas, a volta de Chávez fortalece a ideia de "unidade" em torno de seu governo e dissipa rumores de disputas internas entre os diferentes setores políticos do chavismo.
"Chávez necessita manter a unidade da revolução e só pode fazer isso estando perto das rédeas do poder", afirmou à BBC Brasil Luis Vicente León, analista político da consultoria Datanalisis.
Para ele, Chávez irá agora priorizar a campanha de reeleição, ainda que permaneça a incerteza sobre sua saúde.
"Se sua saúde permitir, ele irá enfrentar a campanha de qualquer jeito", afirmou.
Outro analista político, Carlos Romero, acredita que "o retorno de Chávez dá um empurrão ao governo e à sua própria popularidade."
"Politicamente, Chávez se fortalece, porém, suas condições de saúde deixam incógnitas sobre o futuro e podem limitar sua candidatura à reeleição."
José Vicente Carrasquero, professor da Universidade Simón Bolívar, destaca que a volta repentina de Chávez busca "dissipar dúvidas" sobre quem seria o candidato do governo às eleições presidenciais.
Porém, a seu ver, tentar a reeleição será "uma decisão de risco" para o presidente e seus partidários.
Tensão
O chavismo, por enquanto, não tem um plano B.
Com um governo centralizado fundamentalmente na figura presidencial, os principais membros do gabinete e a maioria dos seguidores do presidente em geral rejeitam a ideia do "chavismo sem Chávez".
"Hugo Chávez será o candidato presidencial do povo revolucionário para as eleições", afirmou, no fim de semana, o vice-presidente Elias Jaua - que até agora esteve no comando do governo durante ausência do presidente.
O sociólogo Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela considera, no entanto, que a partir de agora pode haver certa "tensão" em Chávez.
Por um lado estará a necessidade de repouso e recuperação e de outro, a exigência política de estar pessoalmente à frente de atividades de governo e mostrar que pode dirigir o país "sem limitações".
"Dependendo da gravidade da doença, isso pode ser perigoso. Sem repouso, dieta e cuidados médicos, se torna difícil a recuperação", afirmou Lander à BBC Brasil.
"Uma recaída seria grave tanto no aspecto de saúde como político", acrescentou.
Oposição
Para os analistas, a volta de Chávez à Venezuela pode encurralar momentaneamente a oposição, que utilizou duas estratégias durante a crise.
A primeira foi a de exigir que fosse declarada "ausência temporária" do presidente, o que obrigaria Chávez a deixar formalmente a Presidência. A segunda foi pedir a formação de um governo de unidade nacional.
Com Chávez de volta, a agenda da oposição tende a focar, novamente, nos problemas de gestão chavista e em definir um candidato único para enfrentá-lo nas urnas.
Porém, em um primeiro momento, haverá um recuo inicial, na opinião do analista político José Vicente Carrasquero, para reordenar a estratégia.
"Entre os grupos de oposição haverá um certo recuo, na medida que viam a doença do presidente como uma luz no fim do túnel", afirmou.
A prolongada ausência de Chávez evidenciou que, sem ele para marcar a agenda política, governo e oposição perdem o "rumo".
"O retorno garante estabilidade política e social", afirmou Carlos Romero.
(http://www.bbc.co.uk/portuguese/)
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