“A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer.” (Peter Burke)
segunda-feira, 25 de julho de 2011
REVISÃOZÃO: A MARCHA PARA O OESTE DOS EUA.
Pioneiros X Índios
Após a Guerra da Secessão, os Estados Unidos entraram numa fase de nítido progresso em todos os setores, particularmente no que diz respeito à sua economia. Este fenômeno, talvez um dos mais prodigiosos da história daquele país, só foi possível graças ao processo a que se deu o nome de "conquista do Oeste", o qual se fez à custa dos territórios índios, que foram sendo ocupados por colonos e soldados e, rapidamente, rasgados pelo caminho de ferro. O comboio, sucessor das caravanas, possibilitará o estabelecimento de grandes explorações agrícolas e ganadeiras e das indústrias mais rentáveis. Os ancestrais ocupantes destas terras não puderam resistir ao avanço do "homem branco", do "cara pálida", e a sua resistência foi inglória.
A expansão territorial dos Estados Unidos da América, no Faroeste, no decurso do século XIX, colidiu, de facto, com os interesses das populações americanas nativas. As populações índias que habitavam na parte norte do continente americano foram confrontadas com a forte oposição dos colonos de origem europeia instalados na ex-colónia britânica.
A "confederação Sioux", um dos grupos populacionais de nativos americanos, foi severamente atingida por esta vaga expansionista. Estes povos, da família etno-linguística Siouan, chamados Nadouessioux pelos franceses e mais tarde Sioux pelos colonos, autointitulados Lakota ou Dakota, reuniam sete povos, que vieram a subdividir-se depois em três: dois de povos agricultores sedentários, os Santee e os Nakota, e um de caçadores, Bufaloteton.
No século XVII, os Sioux do Minnesota viviam da caça de animais, da criação de gado e do arroz selvagem, e encontravam-se cercados por povos inimigos como os Ojibwa, que os arrastou para as planícies de Búfalos nas Grandes Planícies. Aqui tornaram-se caçadores e atingiram grande prosperidade.
Por volta de 1750, contavam-se cerca de 30 mil homens, estabelecidos no coração das Grandes Planícies. Dominaram esta vasta região até ao século seguinte. Os Sioux viviam em comunidades tiyospe, constituídas por um grupo familiar alargado, que viajava em conjunto à procura de caça, e acreditavam num deus omnipotente (Wakan Tanka).
Mais tarde, durante a Guerra da Independência Americana, os Sioux lutaram ao lado dos ingleses, mas, em 1815, alguns grupos do Este firmaram tratados de amizade com os Estados Unidos da América. Em 1825 surgiu outro tratado que confirmou a posse, por parte dos Sioux, de um vasto território nos atuais estados do Minnesota, Dakota doNorte e do Sul, Wisconsin, Iowa, Missouri e Wyoming.
Em 1837 os Sioux venderam o seu território a este do rio Mississípi aos Estados Unidos, e em 1851 outros territórios foram também vendidos.
Por esta altura, estalaram conflitos entre os Sioux e os Americanos. No ano de 1854, perto de Fort Laramie no Wyoming, foram mortos 19 soldados americanos. Em 1855, como retaliação deste ato, as tropas americanas mataram por sua vez 100 índios sioux no seu acampamento de Nebraska e prenderam o seu líder.
Entre 1866 e 1867 rebentou a Red Cloud's War (Guerra de Nuvem Vermelha), um conflito com o nome do chefe sioux, concluída com a celebração de um tratado perpétuo, firmado em Black Hill. Apesar deste acordo teoricamente perpétuo, os norte-americanos desrespeitaram as condições do tratado, e em 1870 os índios confrontavam-se com a chegada de inúmeros colonos atraídos pelo ouro.
Na sequência desta "corrida ao ouro", a nação sioux "desenterrou o machado de guerra" e após uma aliança com algumas tribos cheyennes e shoshones, entre outras, organizou ataques contra os Americanos. O culminar deste processo bélico ocorreu no dia 25 de junho de 1876, quando os "bravos" chefiados por Sitting Bull (Touro Sentado) esmagaram o Sétimo Regimento de Cavalaria na batalha de Little Big Horn, no Wyoming. Neste combate pereceu o general Custer, uma das mais destacadas figuras do Exército norte-americano, responsável pelo massacre dos Cheyennes recolhidos na reserva de Wichita, alguns anos antes deste conflito.
Depois destes acontecimentos, os Sioux separaram-se. Mas em Wounded Knee, em dezembro de 1890, foram surpreendidos pelas tropas americanas, que dizimaram cerca de 200 índios. Este facto marca o fim da resistência deste povo.
Os seus descendentes vivem hoje nas reservas nos estados americanos do Minnesota, Dakota do Norte e Dakota do Sul, em Montana e no Nebraska, mantendo a sua língua nativa e dialetos.
Os Cheyennes são também um povo nativo americano, da família linguística Alonquian. Este povo de agricultores e caçadores fixou-se, no século XVII, no centro do estado do Minnesota, afastado das áreas dos Sioux e dos Ojibwas. Posteriormente, foram-se deslocando ao longo do rio no Dakota do Norte.
Em 1770, o seu acampamento foi destruído pelos Ojibwas, obrigando-os a mudarem-se para sul. Quando atingiram Black Hills, no Dakota do Sul, passaram a depender dos búfalos, e adotaram um modo de vida nómada, caçando e praticando uma agricultura rudimentar, sem esquecer a sua vocação bélica. A prática da Sun dance (dança do Sol) estava integrada numa religião que dava grande importância às experiências visionárias.
O cavalo, que para aqui terá sido trazido cerca de 1750, ajudou-os a tornarem-se uma das tribos índias mais fortes das planícies do Oeste.
Por volta de 1830 dividiram-se em dois grupos: os Cheyennes do Sul, da parte superior do rio Arkansas, e os Cheyennes do Norte, no Platte River. Na década seguinte (1864) surgiram os problemas com as forças militares americanas, quando estas massacraram um grupo de Cheyenne em Sand Creek, no Colorado (reserva de Wichita).
A resposta dos Cheyennes foi dada em 1876. Como já foi referido, nesse ano juntaram-se aos Sioux e derrotaram as forças americanas do general Custer na batalha de Little Big Horn. Depois deste acontecimento renderam-se, e foram recolocados pelo Governo americano num território índio, hoje pertença do Estado do Oklahoma, onde vieram a sofrer de doenças e fome.
Os Comanches eram um povo nativo do braço meridional do Shoshones, da Uto-Aztecan, uma família linguística da área cultural das Planícies. Este povo deixou a sua terra tradicional das áridas Montanhas Rochosas e mudou-se para o Sul das Grandes Planícies no século XV, expulsando o povo apache. Dominavam uma vasta área no século XVIII e parte do século XIX, que se estendia até ao México. Em 1800 eram 30 mil. No entanto, uma epidemia reduziu-os a cerca de 10 mil indivíduos.
Eram um povo nómada, caçador de bisontes, que vivia em tendas, numa sociedade de grupos patrilineares. Os Comanches usavam tatuagens e vestes muito exuberantes e acreditavam em espíritos.
Eram um povo muito ligado ao cavalo, sobretudo ao cavalo da raça Pinto Ponies, adquirida aos Espanhóis, e que depois eles próprios passaram a criar. Esta relação com esta espécie animal relacionava-se com a sua vocação para a guerra. Os Comanches atacavam não só as populações de colonos americanos, mas também os outros povos índios.
Em 1875 fizeram a paz com os Estados Unidos.
Os índios Kiowas, outro povo nativo americano, pertencem à família linguística Kiowan-Tanoan, da área cultural das Grandes Planícies. Originalmente, viviam ao longo do rio Arkansas e dos rios vizinhos, numa região hoje pertencente aos estados do Colorado, do Novo México e do Oklahoma. Este povo, todavia, afastava-se um pouco dessa cultura Kiowan-Tanoan, não deixando, no entanto, de ser também muito belicoso e composto por exímios caçadores, apresentando uma elaborada estrutura militar.
Curiosamente, estiveram muito perto de uma língua escrita. Os Kiowas dispunham de sinais pictográficos usados em calendários e no registo de dados cronológicos e eventos relevantes.
Após o período de guerra com os Europeus e com o Exército dos Estados Unidos chefiada por George A. Custer, em 1868, foram forçados a viver numa reserva no Oklahoma em 1874. Todavia, conseguiram fugir e retomaram a sua luta contra os seus vizinhos americanos até 1875. Regressaram ao Oklahoma e aí se fixaram para mais tarde, em 1901, ganharem a cidadania americana.
KAGAN, Robert. Dangerous Nation – America’s Foreign Policy From Its Earliest Days to the Dawn of the Twentieth Century. Nova York, Vintage, 2006.
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