segunda-feira, 6 de junho de 2011

REVISÃOZÃO: SANTA ALIANÇA.

Nesta caricatura, os dois antagonistas portugueses - D. Pedro e D. Miguel - estão amparados e instigados respectivamente pelo rei francês, Luís Filipe, que representava o espírito liberal, e pelo czar Nicolau da Rússia que representava a Santa Aliança.

Em 1815, Rússia, Prússia e Áustria criaram a Santa Aliança com o objetivo de garantir a realização prática das medidas que foram aprovadas pelo Congresso de Viena. Combateu revoltas liberais, interferiu na política colonial dos países ibéricos, já que era a favor da recolonização. A Inglaterra não aderiu à Santa Aliança, pois tinha interesses no comércio com as jovens nações (colônias). A Santa Aliança foi uma das consequências imediatas do Congresso de Viena. Ela surgiu por inspiração do Czar da Rússia Alexandre I, que teria sofrido influência da Baronesa de Krüdener e de Nicolas Bergasse (antigo constituinte francês). Bourquin observa que a influência da senhora de Krudener teria sido pequena e que na realidade a Santa Aliança teria nascido do misticismo de Alexandre. Ele propôs aos outros príncipes cristãos reunidos em Viena governarem seus países de acordo com os "preceitos da Justiça, Caridade Cristã e Paz" e a formação de um bloco de potências, cujas relações seriam reguladas pelas "elevadas verdades presentes na doutrina de Nosso Salvador". Todavia, com a interferência do chanceler austríaco Metternich, a Santa Aliança foi apenas um instrumento da restauração monarquica. Foi escolhido o nome de Santa Aliança para designar esse bloco militar que durou até as revoluções européias de 1848.

Esta aliança foi proclamada no Congresso de Viena (reunido entre 1814 e 1815) e os primeiros países que nela tomaram parte foram Áustria, Rússia e Prússia. Estabelecida entre os soberanos europeus que pretendiam propagar os princípios da Fé cristã e, no fundo, manter o absolutismo como filosofia do Estado e sistema político dominante na Europa, a Santa Aliança foi firmada a partir dum tratado definido pelo imperador Alexandre I da Rússia, sendo posteriormente assinado em 26 de Setembro de 1815 em Paris, por Francisco I, imperador da Áustria, Frederico Guilherme III, rei da Prússia, e o própio Alexandre I. O tratado da Santa Aliança só foi assinado por chefes de Estado, sem ser submetido a ratificação.

Posteriormente, os demais governantes europeus assinaram o tratado, com a exceção do príncipe regente da Grã-Bretanha, do Papa e do sultão turco representante do Império Otomano (estes dois últimos não foram, porém, convidados a assiná-lo).
No momento em que foi feita a proposição da aliança, Lord Castlereagh, o representante inglês, viu a oportunidade de relembrar que "a saúde mental do czar não era das melhores". Metternich e Talleyrand, o representante francês, também achavam que essa proposta não passava de um misto de estupidez e misticismo, mas assinaram-na porque viram nela a oportunidade de combater os sentimentos liberais e nacionais dos povos submetidos às grandes potências.

Portanto, os países que aderiram à Santa Aliança foram: Áustria, Rússia, Prússia e França.

O Direito de Intervenção foi defendido pelo ministro austríaco, Metternich, segundo o qual as nações europeias interviriam onde quer que as monarquias estivessem ameaçadas ou onde fossem derrubadas. A aliança visou a a manutenção dos tratados de 1815, tendo em vista reprimir as aspirações liberais e nacionalistas dos povos oprimidos. Com uma forte aparência religiosa, onde transparecia a vontade de aplicar os princípios cristãos (amor, paz e justiça) à política, o acordo, além de contemplar a não agressão mútua, visava a continuidade de uma filosofia de absolutismo a prosseguir na gestão dos Estados, de forma a contrariar as sublevações que se estavam a fazer sentir da parte de setores populacionais que pretendiam uma política mais liberal e nacional. Em síntese, a Santa Aliança reduziu-se a um poderoso fator de manutenção de monarquias absolutistas na Europa.

A grande importância desta aliança não reside no acordo em si mesmo, mas no fato de ser um símbolo das políticas absolutistas e um instrumento para manter o estado vigente das coisas no continente europeu. Como aspecto ilustrativo deste novo quadro absolutista, refira-se que diversas tentativas e experiências revolucionárias e democráticas, nacionalistas ou liberais, foram derrubadas com intervenção de tropas da Santa Aliança, em nome da manutenção da ordem absolutista. Estava, assim, concluída a vingança das monarquias, postas em causa desde a Revolução Francesa.

Através da Santa Aliança, Áustria, Prússia e Rússia passaram a intervir em vários países europeus, combatendo os anseios de libertação nacional. Intervenções foram feitas em Nápoles e na Espanha pelos países integrantes desse órgão. Como durante o domínio napoleônico na Europa iniciara-se o processo de emancipação política das colônias ibéricas, a Santa Aliança tentou restabelecer o velho Pacto Colonial nesses países. Só não teve sucesso devido à oposição da Inglaterra, que queria conservar a liberdade de comércio com a América, e dos Estados Unidos, que desejavam manter longe o absolutismo europeu, conforme previa a Doutrina Monroe. Baseado nos princípios dessa doutrina, os EUA impediram a Santa Aliança de recolonizar os países americanos que se haviam tornado independentes. A Revolução de 1830 na França contribuiu para abalar as bases da Santa Aliança e a de 1848 para torná-la definitivamente sem efeito. Na guerra de independência da Grécia, a Rússia apoiou os gregos, a Aústria e a Prússia não a apoiou e a Santa Aliança chegou ao fim. Ficou conhecida como a "primeira liga militar do mundo em tempo de paz".

(Nicolson, Harold. The Congress of Vienna: A Study in Allied Unity, 1812-1822. Grove Press, 2000.)

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