terça-feira, 30 de agosto de 2011

ANA, ERA UMA VEZ...

 O burro e o cachorrinho

Um homem tinha um burro e um cachorrinho. O cachorro era muito bem cuidado por seu dono, que brincava com ele, deixava que dormisse no seu colo e sempre que saía para um jantar voltava trazendo alguma coisa boa para ele. O burro também era muito bem cuidado por seu dono. Tinha um estábulo confortável, ganhava muito feno e muita aveia, mas em compensação tinha que trabalhar no moinho moendo trigo e carregar cargas pesadas do campo para o paiol. Sempre pensava na vida boa do cachorrinho, que só se divertia e não era obrigado a fazer nada, o burro se chateava com a trabalheira que ficava por conta dele.
"Quem sabe se eu fizer tudo o que o cachorro faz nosso dono me trata do mesmo jeito?", pensou ele.
Pensou e fez. Um belo dia soltou-se do estábulo e entrou na casa do dono saltitando como tinha visto o cachorro fazer. Só que, como era um animal grande e atrapalhado, acabou derrubando a mesa e quebrando a louça toda. Quando tentou pular para o colo do dono, os empregados acharam que ele estava querendo matar o patrão e começaram a bater nele com varas até ele fugir da casa correndo. Mais tarde, todo dolorido em seu estábulo, o burro pensava: "Pronto, me dei mal. Mas bem que eu merecia. Por que não fiquei contente com o que eu sou em vez de tentar copiar as palhaçadas daquele cachorrinho?"

Moral: É burrice tentar ser uma coisa que não se é.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

REVISÃOZÃO: REVOLUÇÃO RUSSA.

As Teses de Abril de Lênin
B. M. Volin

7 DE ABRIL de 1917 é a data gloriosa em que Lênin lançou suas Teses de Abril, mundialmente conhecidas. As Teses de Lênin apareceram no período da mais extraordinária reviravolta da história da Rússia.

Nos primeiros dias da Revolução de Fevereiro, foram criados os Soviéts dos deputados operários e soldados, como órgãos do poder popular. Entretanto, nos primeiros tempos, os partidos conciliadores, menchevique e social-revolucionário, conseguiram apoderar-se da maioria das cadeiras de deputados nos Soviéts. Uma parte considerável do povo, inexperiente no terreno político, acreditava nos mencheviques e social-revolucionários. Mas estes traidores ludibriaram as esperanças do povo e fizeram um conchavo com a burguesia. Às ocultas dos bolcheviques, entenderam-se com os representantes da burguesia a respeito da formação do novo governo da Rússia — o Governo Provisório burguês. Este governo era composto da burguesia e dos proprietários rurais aburguesados. Sobre as ruínas do tzarismo, a burguesia imperialista russa, auxiliada pelos Soviéts dominados por mencheviques e social-revolucionários, estabeleceu seu próprio poder. Surgiu um entrelaçamento sui-generis de dois poderes — do Governo Provisório e dos Soviéts. Resultou daí o duplo poder. Era necessária uma nova orientação do Partido nas novas condições de luta.

Nas Teses de Abril, é generalizada, de forma extraordinariamente concisa, a experiência histórica das duas revoluções russas e, com perspicácia leninista, fundamentado o plano concreto da passagem da revolução democrática burguesa, já realizada, para a revolução socialista.

Nas Teses de Abril, Lênin deu uma resposta clara e completa a todas as questões que agitavam, então, o Partido Bolchevique e toda a Rússia revolucionária.

As Teses de Abril são o modelo mais perfeito do marxismo criador revolucionário. No artigo dedicado ao 50.º aniversário de Lênin, o camarada Stálin escreveu: Os bolcheviques-leninistas chamam a atenção principalmente para o traçado dos caminhos e meios que correspondem às circunstâncias, a fim de realizar o marxismo-leninismo, para modificar esses caminhos e meios quando as circunstâncias se modificam; os bolcheviques-leninistas não tiram as diretivas e indicações de analogias históricas e paralelos, e sim do estudo das condições do ambiente; em sua atividade, eles não se apóiam em citações e máximas, e sim na prática revolucionária, controlando pela experiência cada um dos seus passos, aprendendo com os próprios erros e ensinando aos outros a construção da vida nova. Com isto se explica propriamente que, na atividade dos bolcheviques, a doutrina do marxismo-leninismo conserva a plenitude da sua força viva, revolucionária.

O camarada Stálin assinalou: referem-se exatamente aos bolcheviques as palavras de Marx, segundo as quais é necessário não somente explicar o mundo, como também ir além, a fim de modificá-lo.

As Teses de Abril, de Lênin, tinham em vista transformar revolucionariamente o mundo. Elas se tornaram a bandeira do grande Partido Bolchevique em sua luta abnegada pela vitória histórica mundial da revolução socialista.

I — Transformar a Revolução de Democrático-Burguesa em Socialista

A 27 de fevereiro (12 de março) de 1917, sob os golpes do povo armado — dos operários e soldados — desmoronou o regime autocrático. Na Rússia, realizou-se a revolução democrático burguesa. Lênin e Stálin não estavam então em Petrogrado. Havia 4 anos, Stálin encontrava-se no longínquo exílio siberiano, e Lênin, separado da Rússia pelas frentes de batalha da primeira guerra mundial, era obrigado a viver na emigração.

Logo que recebeu as primeiras notícias sobre a revolução democrática burguesa, o camarada Stálin partiu às pressas para Petrogrado. Mas Lênin não conseguiu sair imediatamente da Suíça "neutra". Os imperialistas ingleses não queriam, de modo algum, permitir que ele vivesse na Rússia revolucionária. Havia um perigo real: se Lênin se encontrasse na França e principalmente na Inglaterra, seria preso, infalivelmente. Ao mesmo tempo, o Governo Provisório criou toda espécie de obstáculos à volta de Lênin à Pátria. O Governo Provisório não desejava que entrasse na Rússia revolucionária um inimigo tão irreconciliável da burguesia imperialista, um chefe do proletariado russo tão reconhecido por todos, como Lênin.

Encontrando-se na Suíça, Lênin estudou cuidadosamente os acontecimentos que se desenvolviam, enviou artigos à Rússia e fez informes na Suíça.

Nesse período, em todo o enorme trabalho de Lênin na Suíça, suas "Cartas de Longe" ocupam um lugar especial. Ele escreveu cinco, mas só a primeira carta, sob a denominação de "A Primeira Etapa da Primeira. Revolução", foi publicada a 21 e 22 de março (3 e 4 de abril) de 1917, na "Pravda", que tinha ressurgido com a revolução. As outras cartas de Lênin ficaram em manuscritos e só foram publicadas depois de sua morte.

Nas "Cartas de Longe", Lênin revelou genialmente as causas e o caráter de classe da Revolução de Fevereiro, como revolução democrática burguesa. Caracterizou o Governo Provisório como governo da burguesia imperialista, que tinha como objetivo conduzir até o fim a guerra de espoliação.

Lênin previu genialmente o sentido dos acontecimentos de Petrogrado. Eles conduziram a que, ao lado do Governo Provisório oficial da burguesia imperialista, tivesse surgido o governo operário, novo, não oficial, ainda não desenvolvido, governo que exprimia os interesses do proletariado e da população urbana e rural mais pobre — o Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado.

Lênin escreveu:

"O Soviét dos Deputados Operários e Soldados é o embrião do governo operário, o representante dos interesses de todas as massas mais pobres da população, isto é, de nove décimos da população, que se esforça para conseguir a paz, o pão, a liberdade"(1)
A tarefa do Partido Bolchevique consistia em por a descoberto, diante das massas populares, o caráter imperialista do Governo Provisório, desmascarar a traição dos social-revolucionários e dos mencheviques e mostrar que seria impossível obter a paz enquanto o Governo Provisório não fosse substituído pelo governo dos Soviéts.

Dirigindo-se à classe operária revolucionária da Rússia, disse Lênin:

"Operários, manifestastes prodígios de heroísmo proletário popular na guerra civil contra o tzarismo; deveis manifestar prodígios de organização proletária e de todo o povo, a fim de preparar a vossa vitória na segunda etapa da revolução"(2).
Lênin acentuou que esta era a tarefa principal do momento.

Antes de partir da Suíça, ele escreveu a "Carta de Despedida aos Operários Suíços", aprovada na reunião dos bolcheviques emigrados que voltavam à Rússia, ao mesmo tempo que Lênin.

Nesta carta, Lênin acentuou: o Partido Bolchevique, se a revolução o colocar no poder, proporá imediatamente a paz, a todos os povos em guerra; tornará públicas as condições desta paz, que são a libertação imediata de todas as colônias e de todos os povos oprimidos ou que não gozam de todos os direitos; começará imediatamente e levará até o fim a libertação dos povos oprimidos pelos proprietários rurais e capitalistas russos.

Lênin terminou sua carta de despedida com as palavras:

"A transformação da guerra imperialista em guerra civil torna-se um fato. Viva a revolução proletária que começa na Europa!"(3).
As grandes idéias de Lênin sobre a guerra, a paz e a revolução, foram as idéias que orientaram os bolcheviques em todo o seu trabalho.

O camarada Stálin encarnou, de modo conseqüente, as idéias leninistas, desenvolveu-as e congregou o Partido para a luta pelo desenvolvimento e transformação da revolução democrática burguesa em revolução socialista. Stálin, com Molotov, dirigiu a atividade do Comitê Central e do Comitê dos Bolcheviques de Petrogrado. O Comitê Central do Partido encarregou Stálin de dirigir o jornal "Pravda".

A 14 (27) de março, a "Pravda" publicou o primeiro artigo do camarada Stálin "Sobre os Soviéts dos Deputados Operários e Soldados". Um dia depois, apareceu o seu artigo "Sobre a Guerra". Nesses artigos, os bolcheviques receberam diretivas de princípios para o seu trabalho.

Stálin escreveu:

"Com a rapidez do raio, avança o carro da revolução russa. Por toda parte, crescem e ampliam-se os destacamentos dos lutadores revolucionários. Os esteios do antigo poder são abalados pela base e caem"(4).
O camarada Stálin concentrou a atenção dos bolcheviques e de todo o povo na necessidade de reforçar o poder dos Soviéts.

Stálin perguntou: que é necessário para manter os direitos conquistados e fazer avançar a revolução russa.

Ele próprio respondeu:

para isto, é necessária a aliança dos operários com os soldados, isto é, os camponeses metidos em capotes de soldados, "torná-la consciente e sólida, prolongada e estável, bastante estável para opor-se aos ataques provocadores da contra-revolução. Pois é claro para todos que a garantia da vitória definitiva da revolução russa está no reforçamento da aliança do operário revolucionário com o soldado revolucionário.
Os órgãos desta aliança são os Soviéts dos deputados operários e soldados"(5).
O camarada Stálin, nesse artigo, fazia um apelo:

"Operários, camponeses, soldados ! Unificai-vos, por toda parte, nos Soviéts dos deputados operários e soldados, nos órgãos da aliança e do poder das forças revolucionárias da Rússia!"(6).
No artigo "Sobre a Guerra", o camarada Stálin, desmascarando a essência imperialista do Governo Provisório, explicou que o caráter imperialista da guerra não se tinha modificado pelo fato de que, em lugar do governo tzarista, aparecera o Governo Provisório. No artigo, Stálin chamou todo o povo, com o proletariado russo à frente, para a luta ativa pela paz.

Em outro artigo "Sobre as Condições da Vitória da Revolução Russa", publicado na "Pravda" a 18 (31) de março, o camarada Stálin estabeleceu uma tarefa política e de organização, extremamente importante — a criação do Soviét dos deputados operários, soldados e camponeses de todo o povo, como também a tarefa do armamento imediato dos operários.

Os camaradas Stálin e Molotov, com a maioria do partido, intervieram contra o apoio ao Governo Provisório, contra o defensismo dos mencheviques e social-revolucionários, chamaram à luta ativa pela paz, à luta contra a matança imperialista. Intervieram contra a posição semi-menchevique do apoio condicional ao Governo Provisório, posição defendida por Kamenev e outros oportunistas.

O Bureau do Comitê Central do Partido, dirigido pelo camarada Stálin, assinalou em sua resolução que o centro da congregação das massas era formado pelos Soviéts, tanto nas cidades como nos campos, e que os Soviéts eram os embriões do futuro poder estatal do proletariado e do campesinato mais pobre, e a plenitude do poder deveria passar para eles.

Alguns militantes do Partido, que estiveram muito tempo nas prisões e lugares de deportação, orientavam-se mal na situação política que se tinha criado, vacilavam e não viam claramente a atitude que os bolcheviques deveriam tomar.

Na situação política complexa e cheia de contradições, o Partido Bolchevique deveria dar aos operários, aos soldados e aos camponeses, o programa concreto da luta pelo desenvolvimento ulterior da revolução. Era necessário a força extraordinária do cérebro genial de Lênin, sua insuperável experiência política, para traçar o caminho claro e definitivo da revolução socialista. Disse o camarada Stálin:

"Foram necessárias as célebres "Teses de Abril" de Lênin para que o Partido, com um rápido impulso, pudesse atingir o novo caminho(7).
Um mês depois da revolução que teve lugar na Rússia, a 27 de março (9 de abril) de 1917, Lênin com um grupo de emigrados políticos — membros de diferentes partidos — saiu da Suíça, atravessou a Alemanha e, a 31 de março (13 de abril), pela manhã, chegou a Estocolmo. No mesmo dia, à noite, Lênin partiu da capital da Suécia, e a 2 (15) de abril, chegou, finalmente, à fronteira da Rússia — à cidade de Tornéo, no norte da Finlândia.

Lênin caiu aí nas mãos dos ingleses que dominavam a fronteira russa. Eles o submeteram a uma busca minuciosa e grosseira. Mas todos os vexames terminaram. Lênin estava na terra da Rússia revolucionária. Os soldados revolucionários que guardavam a fronteira russa, em Tornéo, foram os primeiros que acolheram Lênin com entusiasmo e aos quais Lênin saudou no território da Rússia revolucionária. Em Tornéo, Lênin foi acolhido por uma delegação especial enviada pelos bolcheviques de Helsinki e pelo Soviét desta cidade.

No primeiro trem que seguiu de Tornéo para o sul, Lênin partiu, alta noite, a 2 de abril, para Petrogrado.

II - Lênin Regressa do Exílio

ANTES da partida do trem, de Tornéo, Lênin enviou a Petrogrado, para o endereço de suas irmãs, Anna Ilinitchna e Maria Ilinitchna Ulianova, um telegrama comunicando sua chegada à capital e pedindo-lhes que comunicassem isto à "Pravda", mas os dias 2 e 3 de abril coincidiam com a Páscoa. Por isto, não trabalharam a redação da "Pravda", as redações de outros jornais e muitas empresas.

Logo que o trem se pôs em movimento, Lênin mandou abrir todas as portas internas do vagão e realizou um comício original, cujos participantes principais eram soldados que voltavam da fronteira para Helsinki e Petrogrado.

Krupskaia narra que o discurso de Lênin não parecia um discurso comum de propagandista ou agitador. Ele falou sobre o que comovia a si próprio — a necessidade da luta ulterior pela paz, da luta contra a guerra espoliadora. O vagão encheu-se logo de soldados que escutavam com a respiração suspensa, que se aproximavam, trepavam nos bancos, a fim de apreender melhor cada palavra daquele que assim tão singelamente, de modo tão compreensível, falava com eles e comovia-se com a mesma questão que os comovia.

Duas horas ante da chegada do trem da Finlândia com Lênin, em Sestroretzk, perto de Bieloostrov, que era um ponto da fronteira com a Finlândia, teve lugar uma reunião convocada pela organização bolchevique de Sestroretzk. O representante do Comitê de Petrogrado comunicou aos participantes da reunião que, duas horas depois, Lênin passaria perto de Sestroretzk. Preparando faixas vermelhas e cartazes saudando Lênin, os operários e as operárias revolucionários de Sestroretzk, num trem especial de ramal, partiram para Bieloostrov. Na plataforma da estação de Bieloostrov, eles se fundiram com a massa, com o povo cheio de alegria, que esperava com impaciência a chegada de Lênin. Ali, entre os delegados dos operários de Petrogrado, estavam o camarada Stálin e Maria Ilinitchna.

O encontro de Lênin com Stálin foi profundamente emocionante. Lênin deu um forte abraço em Stálin e beijaram-se.

Num estado de espírito entusiástico, os operários de Petrogrado e de Sestroretzk lançaram-se ao encontro de Lênin.

A grandiosa recepção feita a Lênin pelo povo, a princípio em Bieloostrov e, depois, especialmente em Petrogrado, comoveu-o profundamente e suscitou-lhe uma nova onda de sua inesgotável energia criadora.

O telegrama de Lênin sobre sua chegada foi recebido em Petrogrado na manhã de 3 de abril. O Comitê Central do Partido só tomou conhecimento dele, ao meio-dia. O Comitê de Petrogrado comunicou imediatamente esta radiosa notícia a todas as organizações do Partido.

Os militantes dos comitês de zona do Partido procuraram os camaradas de casa em casa e comunicaram de boca em boca que, às onze horas da noite, Lênin chegaria a Petrogrado. Muitos camaradas, em lugares diversos da capital, pregaram nos postes pequenas folhas volantes, manuscritas, comunicando a chegada de Lênin. Um episódio interessante teve lugar com o motorista que, a 3 de abril, transportou de automóvel o embaixador inglês Buchanan e o Ministro do Exterior Miliukov. Estes senhores da "alta categoria", nada desconfiando, conversavam animadamente em inglês sobre a chegada de Lênin. O motorista, que viveu como emigrado na Inglaterra e conhecia muito bem o inglês, compreendeu perfeitamente a conversa deles e, logo que seus passageiros saíram do automóvel, dirigiu-se rapidamente à unidade de autos-blindados, a fim de comunicar a chegada imediata de Lênin. Esta unidade foi uma das primeiras a chegar à estação da Finlândia. Coube-lhe a honra de colocar o seu auto-blindado à disposição de Lênin. Este auto tornou-se, depois, histórico.

A notícia da chegada de Lênin espalhou-se pela cidade com uma rapidez extraordinária. Nas usinas Obukov, Putilov e outras da capital, foram convocados comícios relâmpagos dos bolcheviques, a fim de organizar a recepção a Lênin. Milhares de operários, com os bolcheviques à frente, decidiram dirigir-se à estação da Finlândia.

Quando, em Kronstadt, se soube que Lênin ia chegar, os marinheiros deram sinal de alarma, reuniram-se num comício e, para receber Lênin, destacaram uma patrulha mista, que partiu imediatamente para Petrogrado.

De toda parte, rolavam para a estação da Finlândia, operários da usina Putilov e marinheiros da frota do Báltico, que levavam archotes à frente. O entusiasmo geral abarcou todas as camadas dos trabalhadores de Petrogrado que, individualmente e em multidão, se congregaram para receber Lênin.

Para a estação da Finlândia, com as bandeiras desfraldadas, partiram os delegados bolcheviques da I Conferência dos Soviéts de toda a Rússia, que acabava de encerrar seus trabalhos, e as delegações do Comitê Central do Partido e do seu Comitê de Petrogrado.

Pouco depois, toda a praça e as ruas vizinhas da estação tinham sido completamente invadidas pelas colunas de operários, operárias, soldados, marinheiros e guardas-vermelhos. À frente das organizações operárias, marchava a milícia operária armada.

Esta poderosa demonstração da cidade revolucionária de Petrogrado, provava a dedicação e o amor sem limites do povo pelo seu chefe e mestre — Lênin.

Onze horas da noite. O povo esperava, num estado de grande tensão, a chegada do trem com Lênin. Na plataforma da estação, havia inúmeras bandeiras, arcos ornados com panos vermelhos e inscrições saudando Lênin. No fim da plataforma, com flores nas mãos, encontravam-se os parentes e amigos de Lênin, os membros do Comitê Central do Partido e do seu Comitê de Petrogrado. Através dos dois lados da plataforma, estavam os delegados das unidades blindadas, os soldados da Companhia de metralhadoras, dos regimentos de Moscou e Preobrajenski, e os marinheiros com orquestras.

III - Lançada a "Tese Para a Reconstrução do Mundo"

O TREM chegou à meia noite. Lênin, com Stálin, saiu do vagão e foi saudado calorosamente pelos membros do Bureau Russo do Comitê Central do Partido — os camaradas Molotov e Kalinin, pelos membros do Comitê de Petrogrado e pelos parentes.

As tropas puseram-se de guarda. As orquestras tocaram a Marselhesa. Um oficial de marinha, chefe da guarda de honra, deu informações a Lênin e duas vezes, com ele, passou em revista a guarda. Aí mesmo, na plataforma da estação, Lênin pronunciou o seu primeiro discurso diante das tropas revolucionárias de Petrogrado. Disse ele: a guerra, que exterminou milhões de vidas e esgotou as massas populares, abriu os olhos do povo, mostrando-lhe que o capitalismo se meteu num beco sem saída e que a única saída deste beco é a revolução socialista.

Saudado com entusiasmo pelas tropas e pela milícia operária, Lênin terminou seu discurso com um viva à revolução socialista. Os operários e os soldados levaram Lênin nos braços para a sala da terceira classe. Ali, diante do povo em delírio, Lênin pronunciou um novo discurso, breve, acentuando ser impossível que os operários se satisfizessem com o que existia na Rússia, e que o povo precisava do poder da classe operária, da revolução socialista.

Finalmente, levaram Lênin às salas nobres, "do tzar", que existiam na estação. Ali o esperavam os representantes das organizações das zonas e sub-zonas de Petrogrado e diversas delegações, entre os quais a do Comitê Executivo do Soviét de Petrogrado, tendo à frente os mencheviques Tchkeidze e Skobelev.

O líder dos mencheviques, Tchkeidze, começou a pronunciar um "discurso" de saudação. Mas Lênin não quis ouvir esse velho conciliador e traidor da revolução. Lênin dirigiu-se às delegações de operários e marinheiros, que se encontravam presentes, fazendo-lhes um breve discurso de saudação e terminou com as palavras:

— "Viva a revolução, socialista!"
Depois, Lênin deu uma volta brusca, dirigiu-se ao automóvel que o esperava e, aproximando-se dele, começou seu discurso. Operários e soldados cercaram-no por todos os lados. Milhares de olhos voltaram-se para ele. Todos queriam escutar sua voz e sua palavra. Todos queriam ver o grande tribuno e o chefe da revolução.

Carregado pelos operários e soldados, no meio de uma tempestade de gritos de entusiasmo, Lênin galgou a plataforma do auto-blindado, colocou-se junto à metralhadora e pronunciou o seu discurso célebre diante do proletariado revolucionário de Petrogrado, chamando as massas à luta pela vitória da revolução socialista. Diante das massas silenciosas de milhares de trabalhadores de Petrogrado, Lênin lançou novamente as palavras de fogo:

— "Viva a revolução socialista!"
Foi um momento inesquecível. Uma das pessoas que escutaram o discurso de Lênin, recorda:

"Nessa ocasião, o ser humano dançava de alegria".
Um operário assinala em suas recordações que Lênin, em cima do auto-blindado, lançou "a tese para a reconstrução do mundo".

O povo via exatamente na pessoa de Lênin aquele que estava em condições de unificar em torno de si todos os trabalhadores da Rússia e conduzir o povo pelo novo caminho, para a vida livre e feliz.

Os profundos pensamentos e sentimentos, que inflamavam os bolcheviques de Petrogrado, no encontro com o seu chefe e mestre, foram manifestados excelentemente pelo camarada Molotov, em seu trabalho "Lênin e o Partido Durante a Revolução", escrito em 1924, depois da morte de Lênin.

"Desde que Lênin, em seu primeiro discurso pronunciado na Rússia revolucionária, lançou a palavra de ordem de revolução socialista — esta palavra de ordem, para o nosso Partido, como que desceu à terra. Lênin disse a palavra, manifestou o pensamento, aos quais os acontecimentos revolucionários já tinham nos conduzido então, a nós, bolcheviques e a todos os operários avançados.
Os discursos breves, repetidos, do auto-blindado, com os apelos à revolução socialista, lançaram um clarão nítido e fulminante sobre as tarefas fundamentais do nosso Partido. Para nós, participantes desse encontro extraordinário, como que profético, de Lênin, no começo da revolução, esse momento é particularmente inesquecível. Imediatamente ficamos como que reanimados, sentimos um afluxo extraordinário de energia e fé revolucionárias. Os apelos de combate do chefe foram acolhidos com a alegria não menos tempestuosa dos operários de Leningrado, abnegadamente revolucionários".(8).
O auto-blindado, com Lênin, que se encontrava de pé, tendo a bandeira do Comitê Central do Partido na mão esquerda, adiantou-se para o ex-palácio da Kchessinskaia, onde se encontrava e estado maior do Comitê Central do Partido e do seu Comitê de Petrogrado.

Já era muito depois de meia-noite. O auto-blindado avançava lentamente pelas ruas e travessas de Petrogrado, entre os cenários de combate da revolução. O cortejo detinha-se em cada cruzamento. Saindo da escuridão da noite, novas massas populares aderiam à demonstração. O camarada Molotov descreveu:

"No caminho desde a estação até o "palácio da Kchessinskaia", então célebre em Petersburgo, Lênin teve de fazer novos e novos breves discursos às multidões operárias que chegavam, e erguer-se no auto-blindado, iluminado por um holofote na escuridão da noite. E, invariavelmente, Lênin repetia a sua palavra de ordem fundamental: — "Viva a revolução socialista!"(9).
A imensa massa operária marchava atrás do auto-blindado, apoderando-se sequiosamente desses apelos apaixonados do chefe, nunca escutados em nenhum lugar. Em seus breves discursos Lênin alertou o povo de Petrogrado, dizendo-lhe que se tratava de uma luta de vida e de morte, e que era necessário culminar essa luta com a vitória completa do proletariado. Como a "Pravda" de 4 de abril de 1917 comunicou, Lênin saudou o proletariado revolucionário russo e o exército revolucionário russo, que souberam não somente libertar a Rússia do despotismo tzarista, como também iniciaram a revolução social em escala internacional.

Finalmente, o cortejo avançou por Kronverkski e deteve-se junto ao ex-palácio da Kchessinskaia.

Lênin desceu do auto-blindado e dirigiu-se para o palácio. O povo ficou muito tempo na praça. Lênin dirigiu-lhe a palavra três vezes, falando-lhe do balcão do segundo andar, com breves discursos. Milhares de ouvintes apreendiam, comovidos, cada palavra do chefe.

A chegada de Lênin teve uma importância imensa para o Partido Bolchevique, para a revolução. Como um gigante do pensamento criador, da vontade revolucionária inabalável, apareceu Lênin diante das massas revolucionárias do povo.

Cheio de alegria e estímulo, Lênin surgiu na sede do Comitê Central do Partido. Saudou uns e reconheceu outros. Palestrou longa e amistosamente com o camarada Stálin.

No andar superior do edifício, foi preparado um chá fraternal para Lênin e os camaradas. Os bolcheviques de Petrogrado começaram a fazer discursos de saudação, mas Lênin desviou-os para as tarefas que se levantavam diante do Partido e da classe operária na revolução.

Decidiram descer ao andar térreo, à ampla sala onde, num momento às três da madrugada, se reuniram centenas de militantes do Partido, representantes das zonas da capital, de Kronstadt, dos arredores e membros da Conferência dos Soviéts de toda a Rússia.

Lênin falou aos presentes, num longo discurso sobre as perspectivas da revolução e, em particular, sobre as idéias que, no mesmo dia, ele desenvolveu em suas Teses de Abril, de importância histórica mundial. Este discurso foi, para muitos camaradas, uma verdadeira revelação. Os assistentes aplaudiram Lênin, amistosa e prolongadamente. O rosto dos presentes iluminava-se cheio de entusiasmo e da decisão de marchar com Lênin para a luta de vida e de morte pela revolução socialista.

Amanhecia quando o ativo bolchevique de Petrogrado, com Lênin e Stálin à frente, deixou o palácio da Kchessinskaia. Lênin e Krupskaia dirigiram-se ao apartamento das irmãs de Lênin — Anna Ilinitchna e Maria Ilinitchna Ulianova.

IV - "Todo o Poder aos Soviéts"

A 4 (17) de abril de 1917, no palácio de Taurida, Lênin leu e explicou em dois informes que se sucederam um ao outro, suas célebres teses "Sobre as Tarefas do Proletariado na Atual Revolução". Coube a estas teses históricas de importância mundial, a tarefa de acelerar a marcha da revolução russa, orientando as massas trabalhadoras da Rússia para a luta abnegada pelo poder dos Soviéts, pela vitória do socialismo no país. Lênin leu suas teses, a princípio, na reunião dos militantes dirigentes do partido e, depois, numa reunião conjunta dos bolcheviques e mencheviques. Três dias depois, a 7 (20) de abril, foram publicadas na "Pravda".

As Teses de Abril compõem-se de dez teses diversas, orgânica e indissoluvelmente ligadas umas às outras e condicionadas umas pelas outras.

Nas Teses de Abril, Lênin, antes de tudo, deu uma resposta complete à questão mais aguda do momento: a atitude dos bolcheviques diante da guerra então existente. O destino da Rússia, sua independência como Estado e sua integridade dependiam da solução justa desta questão. Lênin disse que a guerra, também sob o novo Governo Provisório, imperialista por seu caráter, continuava a ser uma guerra de rapina e usurpação. Por isto, disse ele, eram inadmissíveis as mínimas concessões ao chamado "defensismo revolucionário", isto é, a pregação mistificadora, feita pelos mencheviques e social-revolucionários, segundo a qual, com o derrubamento da autocracia, a guerra tinha deixado de ser usurpadora e, pretensamente, não era travada com vistas a usurpações, e sim por necessidade — para a defesa do Estado.

Mesmo antes da derrubada do tzarismo, Lênin tinha assinalado:

"a guerra é a continuação da política" e, a fim da saber fazer uma apreciação justa, científica da guerra, "é necessário estudar a política de antes da guerra, a política que levou e conduziu à guerra"(10).
Numa de suas cartas escritas no estrangeiro e enviadas à Rússia. Lênin, tendo sido informado da criação do governo do príncipe Lvov & Cia., esclareceu: a guerra, do lado da Rússia, não deixou de ser imperialista e não poderá deixar de sê-lo, enquanto no poder se encontrarem os proprietários rurais e os capitalistas, os representantes da classe burguesa; enquanto no poder se encontrarem agentes e serviçais tão diretos dessa burguesia como Kerenski e outros social-patriotas; enquanto os tratados do tzarismo com os imperialistas anglo-francêses estiverem em vigor e não forem publicados; enquanto não for liquidada a aliança com o imperialismo anglo-frances; enquanto o poder do Estado não passar da burguesia imperialista para as mãos do proletariado.

Lênin nunca disse que os bolcheviques são inimigos de quaisquer guerras. Eles são inimigos das guerras injustas, usurpadoras, espoliadoras. Mas Lênin acentuava não estar excluída a possibilidade de uma guerra com a qual o proletariado consciente concordaria. Entretanto, isto só teria lugar quando a guerra fosse revolucionária, que justificasse o verdadeiro defensismo revolucionário, isto é, uma guerra em que o povo revolucionário defendesse os seus verdadeiros interesses e conquistas. Em que circunstâncias isto poderia ter lugar? Lênin respondeu: com a condição de que o poder passasse para as mãos do proletariado e para as camadas mais pobres do campesinato, próximos do proletariado, quando não se tivesse de defender o Estado burguês, e sim o seu querido Estado soviético, quando tivesse lugar uma ruptura completa com todos os interesses do imperialismo.

Deve-se lembrar que, já em outubro de 1915, Lênin disse:

"À pergunta — que faria o Partido do proletariado se a revolução o colocasse no poder, na guerra atual — respondemos: proporíamos a paz a todos os beligerantes, com a condição de libertarem as colônias e todos os povos dependentes, oprimidos e que não tenham todos os direitos. Nem a Alemanha, nem a Inglaterra com a França, com seus governos atuais, aceitariam estas condições. Então, deveríamos preparar e travar uma guerra revolucionária"(11).
Lênin tinha em conta que, entre as amplas camadas das massas populares, enganadas pela burguesia, camadas que tinham caído sob a influência da política conciliadora dos social-revolucionários e mencheviques, havia muita gente que se enganava conscientemente, aceitava a guerra como necessidade e não com fins de conquistas. Em relação a essa gente, Lênin exigia que os bolcheviques explicassem, de modo especialmente circunstanciado, tenaz e paciente, a ligação indissolúvel do capital com a guerra imperialista. Numa de suas "Cartas de Longe", Lênin assinalou: fazer ao Governo Provisório burguês a proposta de concluir uma paz democrática, é completamente inútil. Por isto, Lênin estabeleceu para os bolcheviques, como uma obrigação, provarem ao povo, aos operários e soldados, de modo convincente, que só era possível terminar a guerra com uma paz verdadeiramente democrática, sem violências, com a condição de derrubar o capitalismo.

Nas Teses de Abril, Lênin revelou a essência da originalidade da situação característica da Rússia, surgida em abril de 1917. Lênin definiu esta originalidade como a passagem da primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia em virtude da consciência e da organização insuficientes do proletariado, para a segunda etapa da revolução, que deveria dar o poder ao proletariado e ao campesinato mais pobre. Em que consistia a primeira etapa da revolução?

"Na passagem do poder do Estado para a burguesia. Antes da revolução de fevereiro-março de 1917 — Lênin o esclareceu no desenvolvimento de suas teses — o poder do Estado, na Rússia, estava nas mãos de uma velha classe, exatamente a classe dos proprietários rurais, aristocráticos, feudais, dirigida por Nicolau Romanov.
Depois desta revolução, o poder passou para as mãos de outra classe, da nova classe, exatamente da burguesia.
A passagem do poder do Estado, das mãos de uma classe para as mãos de outra classe, é o primeiro índice, o principal, o fundamental da revolução, tanto na significação rigorosamente científica desta noção, como na significação prática política.
Portanto, a revolução burguesa ou democrático-burguêsa na Rússia está terminada"(12).
Na terceira "Carta de Longe", Lênin escreveu:

"Se queremos ser marxistas e aprender com a experiência das revoluções do mundo inteiro, devemos procurar compreender em que consiste exatamente o caráter sui-generis deste momento de transição e que tática decorre de suas particularidades objetivas"(13).
Esse momento de transição caracterizava-se pelo fato de que a revolução de fevereiro, liquidando com um golpe a velha Rússia privada de direitos, colocou o país no caminho da máxima legalidade, tornou a Rússia, entre todos os países beligerantes, o mais livre do mundo, e pelo fato de que as massas populares manifestavam uma atitude confiante inconsciente para com o pior inimigo da paz e do socialismo — o governo capitalista.

Tudo isto exigia que as massas populares e, sobretudo, as massas proletárias, fossem levadas a desenvolver uma grande atividade política. Lênin sempre ensinou que a política começa onde as massas, milhões de homens, atuam. Por isto, Lênin exigiu que os bolcheviques criassem formas de organização que pudessem abarcar esses milhões e os elevassem ao nível da compreensão justa do que tinha lugar no país.

Lênin fez a primeira caracterização ampla do Governo Provisório, no "Borrão das teses de 17 de março de 1917". Falando sobre "o novo governo", como um governo de imperialistas conscientes, ele acentuou que esse governo:

"não pode dar aos povos da Rússia (nem às nações com as quais a guerra nos ligou) nem paz, nem pão, nem completa liberdade"(14).
A característica individual dos negocistas políticos do Governo Provisório, foi feita por Lênin, já em Zurich, na mensagem ao proletariado internacional — "A Revolução na Rússia e as Tarefas dos Operários de Todos os Países", e na folha volante "Aos camaradas que sofrem como prisioneiros". Lênin escreveu sobre o Governo Provisório:

"Nele, os postos principais pertencem: ao príncipe Lvov (grande proprietário rural e o liberal mais moderado), A. Gutchkov (companheiro de Stolipin, que, em seu tempo, aprovava os tribunais de guerra contra os revolucionários, Terechtchenko (o maior usineiro de açúcar, milionário), Miliukov (sempre defendeu e defende, agora, a guerra de rapina, à qual o nosso país foi lançado pelo tzar Nicolau com sua quadrilha). O "democrata" Kerenski só foi convidado para o novo governo, a fim de criar a aparência de um governo "popular", a fim de ter um falastrão "democrático", que diga ao povo palavras altissonantes mas vazias, enquanto os Gutchkov e os Lvov fazem uma obra anti-popular"(15).
Lênin considerava que a primeira tarefa dos bolcheviques era esclarecer e desmascarar, diante das amplas massas, a falsidade de todas as promessas do Governo Provisório, que não podia deixar de ser imperialista. Por isto, Lênin proclamou:

— "Nenhum apoio ao Governo Provisório".
Esta exigência de Lênin sobre a desconfiança incondicional em face do Governo Provisório, minou radicalmente a posição semi-menchevique de Kamenev e de seus poucos partidários, sobre o apoio "condicional" ao Governo Provisório.

Lênin concedeu uma atenção especial aos Soviéts, criação revolucionária das massas operárias russas.

Apoiando-se na experiência da primeira revolução russa, Lênin, nos materiais do seu livro "O Estado e a revolução", assinalou ser necessário substituir a velha máquina do Estado e os Parlamentos, pelos Soviéts dos deputados operários e seus homens de confiança.

É verdade que, historicamente, as coisas se desenvolvem de tal modo que, nos primeiros tempos, a maioria nos Soviéts se encontrou a favor do bloco de todos os elementos, pequeno-burgueses, oportunistas, que se entregavam à influência da burguesia e transmitiam essa influência ao proletariado. Por isto, Lênin exigiu que, enquanto o Partido Bolchevique se encontrasse em minoria nos Soviéts, deveria fazer um trabalho de crítica e esclarecimento dos erros dos Soviéts e, ao mesmo tempo, fazer propaganda da necessidade da passagem de todo o poder do Estado aos Soviéts.

Em suas Teses de Abril, Lênin lançou a palavra de ordem "Todo o poder aos Soviéts", pois os Soviéts constituíam a única forma possível de governo revolucionário. Lênin declarou: mas enquanto esse governo sofrer influência da burguesia, será necessário que os bolcheviques expliquem paciente, sistemática e tenazmente os erros da tática dos Soviéts, adaptando o seu trabalho de esclarecimento às necessidades práticas das massas.

Lênin tinha em vista o fato de que, se o poder passasse para os Soviéts, embora nas mãos dos mencheviques e social-revolucionários, as massas, baseando-se na própria experiência, se livrariam de seus erros e ilusões.

Devido à palavra de ordem bolchevique "Todo o Poder aos Soviéts", os mencheviques, os social-revolucionários e os constitucional-democratas tentaram apresentar as coisas como se os bolcheviques quisessem derrubar imediatamente o Governo Provisório. Lênin explicou que isso não era de modo algum, um apelo no sentido de um golpe de Estado violento. Pelo contrário, era necessário conseguir sistematicamente que, por meio da reeleição dos Soviéts de deputados operários e soldados, fosse criada tal maioria na direção dos Soviéts, que fosse proveitosa ao povo e assegurasse a modificação da política dos Soviéts na direção necessária e, deste modo, a modificação da composição e da política do Governo Provisório. A palavra de ordem "Todo o poder aos Soviéts", neste período, como o camarada Stálin explicou em seu trabalho "A Revolução de Outubro e a Tática dos Comunistas Russos", significava "a ruptura do bloco dos mencheviques e social-revolucionários com os constitucional-democratas, a formação de um governo soviético de mencheviques e social-revolucionários (pois, então, os Soviéts eram de social-revolucionários e mencheviques), o direito de livre agitação para a oposição (isto é, para os bolcheviques), e a livre luta dos partidos no seio dos Soviéts, levando em conta que, por meio desta luta, os bolcheviques conseguiriam conquistar os Soviéts e modificar a composição do governo soviético em virtude do desenvolvimento pacífico da revolução. Certamente, este plano não subentendia a ditadura do proletariado. Mas, indubitavelmente, facilitava a preparação das condições necessárias à garantia da ditadura, pois, de acordo com o plano, colocando no poder os mencheviques e os social-revolucionários e obrigando-os a realizar de fato sua plataforma anti-revolucionária, acelerava o desmascaramento da verdadeira natureza desses partidos, acelerava seu isolamento, separando-os das massas"(16).

Era uma orientação no sentido do desenvolvimento pacífico da revolução.

Nas Teses de Abril, Lênin exprimiu a idéia genial de que, na Rússia revolucionária, não deveria ser estabelecida a República Parlamentar — pois seria um passo atrás, voltar do Soviét dos deputados operários, para ela — e sim a República dos Soviéts dos deputados operários, soldados e camponeses, em todo o país, de cima a baixo.

Três semanas antes do aparecimento das Teses de Abril, Lênin escreveu: a desilusão das massas populares no Governo Provisório, faz com que se aproxime "a hora da substituição deste governo pelo poder do Soviét dos Deputados Operários"(17).

Lênin esclarecia: a República dos Soviéts é não somente a organização de massas, como também a organização geral e total do povo. armado, contra a qual nenhum aparelho estatal da burguesia poderá resistir.

Lênin convencia os trabalhadores da Rússia:

"Julgai vós próprios, manter-se-á a guerra, manter-se-á a dominação dos capitalistas na terra, se o povo russo... conquistar a completa liberdade e entregar todo o poder do Estado nas mãos dos Soviéts dos Deputados Operários e Camponeses?"(18).
A dedução de Lênin sobre a passagem da república parlamentar para a República dos Soviéts, foi um extraordinário passo histórico à frente, no domínio da teoria marxista e da prática revolucionária. Antes disto, os marxistas de todos os países, durante um longo período, consideravam que a república parlamentar era a melhor forma política da passagem para o socialismo.

Partindo da experiência das duas revoluções russas, no processo das quais as massas criaram os Soviéts, Lênin propôs que a república-democrática parlamentar fosse substituída pela república dos Soviéts como a forma mais conveniente da organização política da sociedade no período de transição do capitalismo para o socialismo.

Lênin descobriu que os Soviéts são a forma estatal da ditadura do proletariado. Esta descoberta foi uma contribuição imensa para o tesouro da teoria marxista. Exatamente Lênin, como verdadeiro, autêntico marxista, que impele para a frente a teoria, combina a prática com a teoria, não temeu atentar contra um dogma que se tinha enraizado, que passara de tempo e que, na situação histórica, formada concretamente na primavera de 1917, só poderia ser nocivo.

O camarada Stálin disse:

"Que teria sido do Partido, da nossa revolução, do marxismo, se Lênin tivesse recuado diante da letra do marxismo e não se tivesse decidido a substituir uma das velhas teses do marxismo, formulada por Engels, pela nova tese sobre a república dos Soviéts, de acordo com a nova situação histórica? O Partido teria vagado nas trevas, os Soviéts teriam sido desorganizados, não possuiríamos o poder soviético e a teoria marxista teria sofrido um sério prejuízo. O proletariado teria perdido, os inimigos do proletariado teriam lucrado"(19).
A exigência de Lênin — substituir a república parlamentar pela República dos Soviéts — tornou-se a palavra de ordem revolucionária de combate para as massas de milhões do povo russo e, ao mesmo tempo, para os outros povos da Rússia.

Exatamente os Soviéts foram a única forma política que poderia realizar a libertação, econômica e política do proletariado.

Na luta histórica contra a burguesia, o proletariado só podia triunfar numa aliança com o campesinato mais pobre. Por isso, Lênin determinou assim, as tarefas do Partido Bolchevique nos campos: a nacionalização de todas as terras do país, com a confiscação das terras dos grandes proprietários rurais e a criação de estabelecimentos modelares nos grandes domínios rurais, sob o controle dos deputados operários agrícolas e por conta da sociedade.

Na quinta "Carta de Longe", Lênin declarou:

"na Rússia, a vitória do proletariado é realizável no futuro mais imediato, somente com a condição de que em seu primeiro passo os operários tenham o apoio da imensa maioria do campesinato, em sua luta pela confiscação, de toda a terra dos proprietários... e nacionalização de toda a terra"(20).
Para levar as massas de milhões de camponeses à realização desta grande obra histórica, era necessária uma organização especial de classe nos campos — os Soviéts dos deputados operários agrícolas. Lênin disse que não somente os operários agrícolas como também os camponeses pobres e os mais pobres, deveriam ser organizados separadamente dos camponeses abastados e, especialmente dos kulaks, em Soviéts especiais.

O programa econômico dos bolcheviques, formulado por Lênin nas Teses de Abril, também previa a fusão imediata de todos os bancos do país num único banco geral da nação, controlado pelos Soviéts. A idéia de Lênin era minar a base econômica da burguesia e orientar a atividade dos bancos no interesse das massas trabalhadoras, em nome da revolução socialista. Lênin declarou que os bolcheviques não deviam estabelecer como tarefa imediata a "introdução" do socialismo, e sim, apenas, passar imediatamente, ao controle dos Soviéts dos deputados operários sobre a produção social e a distribuição dos produtos.

A idéia do controle da produção e distribuição dos produtos era apreciada pelos operários e a eles compreensível. Falando na terceira "Carta de Longe" sobre as tarefas do melhoramento da vida, sobre o pão, sobre a garrafa de bom leite para as crianças, sobre os palácios e ricos apartamentos para os desabrigados, Lênin preveniu que tais medidas ainda não representam o socialismo, pois se referem unicamente ao consumo, e não à reorganização da produção. Estas medidas são transitórias no caminho para a segunda etapa da revolução, para o estabelecimento da ditadura do proletariado.

Lênin esclareceu que os operários, os soldados e os camponeses, melhor que os funcionários públicos, melhor que os policiais, resolvem as questões práticas e difíceis do reforçamento da produção de pão, de sua melhor distribuição, do melhor abastecimento aos soldados, etc. A propósito, Lênin exprimiu a mais profunda convicção de que os Soviéts, melhor e mais rapidamente que a república parlamentar, impulsionariam a livre iniciativa das massas do povo e, mais prática e fielmente, resolveriam como é possível avançar e que passos dar para o socialismo.

Nas Teses de Abril, Lênin deu grande atenção aos problemas da construção do Partido.

Ele propôs que, na parte teórica do programa máximo, fossem introduzidas secções especiais sobre a atitude em face do Estado e a reivindicação do "Estado-comuna". Quanto ao programa mínimo, ele deveria ser corrigido, tendo em conta a experiência da revolução democrática burguesa, que tinha sido realizada.

Ainda mais: o Partido chamava-se Partido Operário Social-Democrata Russo (bolchevique). Mas este nome não refletia os objetivos aos quais o Partido aspirava. A verdadeira denominação do Partido Bolchevista deveria ser científica, deveria corresponder às tarefas e aos objetivos que ele punha em primeiro lugar, isto é, à vitória do comunismo. E Lênin propôs que o Partido passasse a chamar-se Partido Comunista.

Em dezembro de 1919, no informe sobre os sábados comunistas, na Conferência do Partido, da cidade de Moscou, Lênin falou especialmente sobre a causa principal que o tinha levado a propor, nas Teses de Abril, a mudança do nome do Partido.

Disse ele: a causa principal foi o desejo de separar-se, do modo mais categórico, do socialismo da II Internacional, dominante na Europa, a fim de mostrar que o velho socialismo apodreceu, estava morto. Com este objetivo principal, foi lançada a idéia da nova denominação do Partido, tanto mais quanto, do ponto de vista puramente teórico, a denominação "social-democracia" era errônea há muito tempo. Nos anos 40 do século XIX, esta denominação foi adotada pelo partido do reformismo socialista pequeno-burguês, e não pelo Partido do proletariado revolucionário.

Finalmente, Lênin colocou diante dos bolcheviques russos a tarefa de chamar a si a iniciativa da criação de uma nova internacional, a III Internacional, a Internacional Comunista, livre do oportunismo, do social-chovinismo. O levantamento dessa tarefa foi preparado por toda a marcha da luta incansável e irreconciliável dos bolcheviques na arena internacional, luta pela ruptura decidida com o oportunismo e, desta forma, pela verdadeira unidade do movimento revolucionário internacional.

Lênin concentrou nas Teses de Abril toda a imensa experiência do Partido Bolchevique e desenvolveu as idéias geniais sobre a guerra e a revolução. Ele não deixou sem resposta uma única questão do período de transição e, à luz da teoria marxista, iluminou claramente a situação extremamente complexa, variada e contraditória da Rússia revolucionária.

O camarada Stálin disse:

"As Teses de Abril, de Lênin, traçaram o plano genial da luta do Partido pela passagem da revolução democrático-burguesa à revolução socialista, pela passagem da primeira etapa da revolução à segunda etapa — a etapa da revolução socialista. Com toda a sua história anterior, o Partido estava preparado para essa grande tarefa. Já em 1905, na brochura "Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática", Lênin disse que, depois da derrubada do tzarismo, o proletariado passaria a realizar a revolução socialista. Nas teses, o que havia de novo é que elas traçavam o plano concreto, fundamentado teoricamente, da passagem para a revolução socialista".
O caminho indicado por Lênin nas Teses de Abril, conduziu os trabalhadores do nosso país, dirigidos pelo Partido Bolchevique. à vitória da Grande Revolução Socialista de Outubro, à criação do Estado socialista soviético.

V - Abrindo o Caminho para o Socialismo

As Teses de Abril tornaram-se uma bandeira para todas as organizações do Partido, para todo o Partido. Elas mostraram ser uma força extraordinária, que se apoderava cada vez mais das massas e as impelia, sob a direção dos bolcheviques, a realizar a revolução socialista. As Teses de Abril elevaram a revolução a um grau superior e auxiliaram o Partido a conquistar ideologicamente, para seu lado, as imensas massas dos operários e soldados. Mas não foi uma obra fácil, tanto mais quanto, então, no seio das amplas camadas do povo trabalhador, dominavam o estado de espírito bonacheirão, a embriaguez com a revolução, e se combinavam com a despreocupação e a falta de vigilância política.

As Teses de Abril, de Lênin, provocaram uivos furiosos no seio da burguesia, dos mencheviques e social-revolucionários. Todos os agentes pequeno-burgueses se desencadearam contra Lênin, contra os bolcheviques, que chamavam as massas populares à vigilância revolucionária, preparavam o exército político para os próximos combates decisivos de classe. A Rússia deveria sair desses combates, como um novo país do socialismo. Os conciliadores vociferavam, dizendo que Lênin tinha desfraldado a bandeira da guerra civil no seio da democracia revolucionária. Os mencheviques chegaram mesmo a lançar um apelo aos operários, que começava prevenindo-os de que a revolução estava em perigo e, segundo suas palavras o perigo consistia em que os bolcheviques tinham lançado a palavra de ordem de "Todo o poder aos Soviéts".

Plekanov, que tinha tomado uma atitude menchevique defensista-imperialista, chamou a alocução de Lênin um "sonho-farsa", um discurso "delirante".

Respondendo aos mencheviques e, em particular, a Plekanov, Lênin escreveu na parte final das Teses de Abril:

"Eu chamaria isso, expressões "delirantes", se dezenas de anos de luta política não me tivessem ensinado a encarar a boa fé dos opositores como rara exceção"(21).
Lênin tinha passado pela escola severa da luta política e conhecia muito bem o verdadeiro valor de seus adversários.

Fazendo parte do coro da burguesia contra-revolucionária, dos mencheviques e social-revolucionários, que se atiravam contra o programa concreto leninista, que orientava o Partido no sentido da revolução socialista — também intervieram os inimigos do bolchevismo, Kamenev, Rikov, Piatakov e seus poucos partidários, degenerados e capitulacionistas. Alguns deles chegaram mesmo a tentar esconder as Teses de Abril às massas do Partido. Entretanto, não o conseguiram.

Não foram, apenas, a burguesia russa e os oportunistas russos que se lançaram, então, contra Lênin, contra os bolcheviques. Toda a burguesia internacional e seus agentes os apoiaram energicamente. O jornal "Temps", órgão da grande burguesia francesa, órgão oficioso do governo francês, revelando a verdade de seus pensamentos secretos, escreveu a 22 de abril de 1917:

"Os jornais de todas as tendências, inclusive da ala extrema esquerda, colocam-se unanimemente contra a posição do socialista Lênin, cuja influência está perdida irrevogàvelmente".
O jornal inglês "Daily Telegraph" afirmou:

"Lênin ficou totalmente sem partidários".
Os inimigos do bolchevismo, russos e internacionais, enganavam-se. O camarada Stálin, em seu discurso de recepção aos trabalhadores das escolas superiores, em maio de 1938, disse:

"Recordai 1917. Sobre a base da análise científica do desenvolvimento social da Rússia, sobre a base da análise científica da situação internacional, Lênin chegou, então, à dedução de que a única saída da situação era a vitória do socialismo na Rússia. Era uma dedução mais que inesperada para muitos homens de ciência da época. Plekanov, um dos mais notáveis homens de ciência, falou então, com desprezo, sobre Lênin, afirmando que Lênin estava "em delírio". Outros homens de ciência, não menos conhecidos, afirmavam que "Lênin perdeu o juízo", e era necessário encerrá-lo não importa onde, bem longe. Contra Lênin, estiveram então todos e quaisquer homens de ciência, como contra um homem que destruía a ciência. Mas Lênin não temeu ir contra a corrente, contra a rotina. E Lênin triunfou"(22).
Em torno de Lênin, congregou-se todo o Partido Bolchevique. Ele foi preparado para a luta pelas Teses de Abril, por todo o seu passado glorioso, por toda a atividade do Bureau do Comitê Central do Partido na Rússia, tendo à frente os camaradas Stálin, Molotov e outros. As teses de Lênin conquistaram as organizações do Partido, uma após outra, em Petrogrado, em Moscou e em toda a Rússia. Dois dias depois, a 10 de abril, foram aprovadas pelo Comitê da zona de Vassili Ostrov e pelas organizações do Partido nas outras zonas de Petrogrado. A 14 de abril, realizou-se a Conferência dos bolcheviques de Petrogrado, que aprovou as teses e as colocou na base de seu trabalho.

As teses de Lênin foram aceitas carinhosamente pelas organizações do Partido nas usinas numerosas de Moscou, Samara, nos Urais e nas outras zonas e cidades.

A 24 de abril, realizou-se a VII Conferência de toda a Rússia, a Conferência de Abril, que, como base de seu trabalho, colocou as Teses de Abril, de Lênin, que se tornaram o programa da luta dos bolcheviques pela revolução socialista.

Inaugurando a Conferência, Lênin, num breve discurso, assinalou que a grande honra de começar a revolução cabia ao proletariado russo. Em seus relatórios na conferência, Lênin desenvolveu as idéias que ele tinha formulado nas Teses de Abril.

Contra Lênin, falaram Kamenev e Rikov na conferência. A reboque dos mencheviques, repetiram que a Rússia não estava madura para a revolução socialista e que, na Rússia, só era possível a revolução burguesa. Eles propunham "controlar" o Governo Provisório. Na essência, era a posição menchevique que consistia em manter o poder da burguesia.

O camarada Stálin, defendendo decididamente a linha leninista manifestada nas Teses de Abril, desmascarou a linha anti-leninista, conciliadora, de Kamenev, Rikov e de seus partidários.
Lênin condenou a posição de Zinoviev, que era contrário à criação da nova Internacional, a Internacional Comunista. Lênin caracterizou a tática de Zinoviev como "arqui-oportunista e nociva".

Na Conferência de Abril, o camarada Stálin fez um informe sobre a questão nacional. Este informe teve uma importância imensa para o Partido, para a revolução. Nele, Stálin desenvolveu a linha marxista-leninista conseqüente na questão nacional. Fundamentou a política nacional bolchevique, defendendo, na luta contra os oportunistas do tipo de Bukarin e Piatakov, o direito das nações à auto-determinação, indo até a separação e formação de Estados independentes.

A Conferência de Abril, aprovando as Teses de Abril, de Lênin, sustentando a posição leninista-stalinista na questão nacional, orientou o Partido para a luta em nome da vitória da revolução socialista.

As Teses de Abril foram uma notável encarnação criadora do marxismo-leninismo na política do Partido Bolchevique, nas ações revolucionárias das massas populares dirigidas sabiamente pelo glorioso Partido de Lênin e Stálin. Essas teses constituem um modelo clássico do gênio criador de Lênin, uma contribuição valiosa ao tesouro do marxismo-leninismo.

Ainda quando se encontrava emigrado na Suíça, Lênin escreveu:

"Todas as nações chegarão ao socialismo, é inevitável, mas não chegarão de modo inteiramente idêntico; cada uma trará sua originalidade nesta ou naquela forma da democracia, nesta ou naquela variedade da ditadura do proletariado, neste ou naquele ritmo das transfigurações socialistas dos lados diversos da vida social. Nada existe de teoricamente mais pobre e praticamente mais irrisório, do que, "em nome do materialismo histórico", desenhar o futuro, neste sentido, com uma cor única cinzenta: seria um borrão de Suzdal nem mais nem menos"(23).
A Rússia foi o primeiro país do mundo que abriu o caminho para o socialismo. Agora que o esmagamento dos focos principais do fascismo conduziu a um vasto desenvolvimento do movimento democrático no mundo inteiro, muitos povos da Europa, depois da guerra, não querendo viver como antigamente, chamaram a si o destino de seus Estados, criaram novos regimes, democráticos. A questão do socialismo está na ordem do dia, em muitos países da Europa. Atualmente, repercutem com uma nova força as profundas Teses de Abril e as palavras magníficas de Lênin sobre a originalidade, o caráter sui-generis dos caminhos do desenvolvimento da democracia e do socialismo nos diferentes países do mundo.

Durante os anos do poder soviético, sob a sábia direção do Partido de Lênin e Stálin, foi construído o novo Estado socialista verdadeiramente popular que resistiu a provas extraordinárias e demonstrou sua força invencível e sua vitalidade. Defendendo, como a menina dos olhos, a potência soviética, o nosso grande povo soviético, dirigido pelo seu chefe e mestre, o camarada Stálin, marcha firmemente para a completa vitória do comunismo.

Notas:
(1) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, tomo XX, pág. 18 — Edição russa — Moscou. (retornar ao texto)
(2) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 19, tomo XX, edição" russa, Moscou. (retornar ao texto)
(3) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 70, tomo XX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(4) J. Stálin — OBRAS, pg. 1, tomo III, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(5) J. Stálin — OBRAS, pg. 2 tomo III, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(6) J. Stálin — OBRAS, pg. 2 tomo III, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(7) "Nos Caminhos de Outubro" — "Artigos e Discursos", pg. 9, edição russa, Moscou, 1925. (retornar ao texto)
(8) V. Molotov — "Lênin e o Partido durante a Revolução", pg. 4, edição russa, Moscou, 1924. (retornar ao texto)
(9) V. Molotov — "Lênin e o Partido durante a Revolução" pg. 4, edição russa, Moscou, 1924. (retornar ao texto)
(10) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 199, tomo XIX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(11) V.I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 313, tomo XVIII, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(12) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 100, tomo XX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(13) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 32, tomo XX, edição russa, Moscou.(retornar ao texto)
(14) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pgs. 9 e 10, tomo XX. edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(15) V. I. Lênin — "Obras de 1917", pg. 75, edição russa, Moscou, 1938. (retornar ao texto)
(16) J. Stálin — "Cuestiones del Leninismo", pg. 121, Ediciones en Lenguas Extranjeras, Moscou. (retornar ao texto)
(17) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 40; tomo XX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(18) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 45, tomo XX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(19) J. Stálin — "História do Partido Comunista (bolchevique) da U. R, S. S., pg. 142, Rio. (retornar ao texto)
(20) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 46, tomo XX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(21) V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 90, tomo XX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(22) J. Stálin - "Sobre Lênin", pg. 84, edição russa, Moscou, 1940.(retornar ao texto)
(23) — V. I. Lênin — OBRAS COMPLETAS, pg. 203, tomo XIX, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)

(http://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/25/teses.htm)

domingo, 28 de agosto de 2011

sábado, 27 de agosto de 2011

PHISOLOFANDO

Procrusto

Friedrich Dürrenmatt

Na localidade de Korydallos viviam tantos gigantes quanto homens normais, e naturalmente os homens maiores, os gigantes, subjugavam os homens menores. Como Korydallos ficava nas proximidades da Ática, soprou até lá um hálito de razão vindo de Atenas, inspirando o gigante Polipemo, que era particularmente grande, a pensar. Durante várias semanas, ele andou pensativo pela região, refletindo sobre a desigualdade dos homens. Depois disso, ele autonomeou-se Procrusto, o esticador, e construiu duas camas, uma para os gigantes e outra para os não-gigantes. Na cama para os não-gigantes, ele colocava os gigantes e lhe cortava as pernas, de modo que eles coubessem na cama dos não-gigantes. Os não-gigantes, ele colocava na cama dos gigantes e os esticava, até que estes se adequassem à cama.
Palas Atena, de cujo hálito soprou o ar da razão até Korydallos, sentiu-se responsável e dirigiu-se a Procrusto. Ela perguntou o que ele fazia.
"Estou agindo de acordo com a tua razão, deusa", respondeu o gigante, "cujo hálito colocou em movimento o meu pensar. Eu comecei a refletir sobre a desigualdade dos homens. Ela é injusta. Eu me dei conta pouco a pouco de que a justiça exige que todos os homens sejam iguais. Isto é razoável. Há em Korydallos gigantes e não-gigantes, sendo que os primeiros subjugam os segundos. Os homens são aqui desiguais de dois modos: em seu ser e em seu fazer. Isto não é razoável. Ora, se eu tornasse apenas os gigantes em não-gigantes, cortando-lhes as pernas, eu teria produzido com isso, todavia, uma nova injustiça: não-gigantes aleijados e não-gigantes, sendo que nesse caso estes últimos submeteriam os gigantes que se tornaram aleijados. Também irrazoável. Mas se eu agisse contra os não-gigantes, se eu os esticasse ao tamanho dos gigantes aleijados, eu teria produzido uma nova injustiça: tal como os gigantes aleijados, eles estão tão entregues aos gigantes quanto os não-gigantes. Outra vez irrazoável. Assim sendo, a meu ver, só há uma possibilidade de estabelecer a igualdade de todos os homens: os gigantes têm o direito de ser não-gigantes, e os não-gigantes de ser gigantes. Eu estou agindo de acordo com isso. Eu corto as pernas dos gigantes, eles se tornam tão pequenos quanto os não-gigantes. Quanto aos não-gigantes, eu estico-os até ficarem do tamanho dos gigantes. Tal operação torna ambos iguais, pois através dela ambos se tornam aleijados. E se eles morrem em consequência da operação, eles também são iguais entre si, pois a morte torna todos iguais. Isto não é razoável?"
Balançando a cabeça negativamente, Palas Atena retornou a Atenas. A argumentação de Procrusto a fez perder as palavras. Foi a primeira vez que ela, como deusa, ouviu um discurso ideológico, e ela não encontrou nenhuma réplica.
Procrusto, em virtude do silêncio da deusa, convenceu-se da correção de suas deduções, e voltou a torturar. Aos torturados, ele sempre esclarecia que o fazia em nome da justiça: ora, um gigante tem o direito de ser um não-gigante e vice-versa. A localidade de Korydallos tornou-se um inferno, repleta dos gritos dos martirizados, que podiam ser ouvidos em toda a Grécia. Os deuses, embaraçados, tapavam os ouvidos com as mãos. Eles também não encontravam nenhuma réplica à argumentação de Procrusto. As pragas, em especial, eram horríveis de se ouvir. Por isso, eles desligavam o som dos televisores – como deuses eles estavam tecnicamente bem à frente dos homens – para não mais ouvir as preces e os pedidos de socorro, bem como a gritaria e as maldições de Korydallos, razão pela qual eles nada mais ouviam do resto da terra. Todavia, isso fez com que eles não mais interviessem na história. E assim, então, gigantes e não-gigantes amaldiçoavam Procrusto, enquanto ele os torturava, e os aleijados gigantes e não-gigantes o amaldiçoavam também. Saíam maldições até mesmo do túmulo daqueles que não haviam passado pelo procedimento bárbaro. Mas visto que Procrusto não compreendia porque ele estava sendo amaldiçoado – pois ele se sentia um benfeitor e era em geral um gigante muito sensível –, ele imaginou que o problema estava em seu método, ele fez especialmente para as suas camas bons colchões. Desse modo, enquanto os coridalianos gritavam incessantemente e amaldiçoavam, ele tentava acalmar os torturados de um outro modo, já que eles não haviam sido iluminados pela razão divina como ele. Ele dizia para as suas vítimas que era heroico sofrer cada um em sua cama específica, fabricada de árvores que cresciam em todo o país – uma razão não menos irracional, porém, agora uma razão patriótica para as suas torturas.
E realmente, desta vez alguns gigantes e não-gigantes se colocavam como voluntários aqui. No geral, as maldições foram diminuindo com o tempo. Por encontrarem motivos para a ação de Procrusto, eles também encontravam consolo para tanto sofrimento. Houve até gigantes aleijados e não-gigantes aleijados que se convenceram de que haviam sido torturados para um futuro melhor. Por causa disso, pelo menos a chegada de Procrusto não era mais amaldiçoada, pois, com o tempo, as gigantes, através de uma adaptação evolucionária, passaram a dar à luz aleijados não-gigantes, e as não-gigantes, aleijados gigantes, de modo que Procrusto, no geral, não precisou mais torturar. Outros contentavam-se em morrer desse modo, desde que assim, esperavam eles, no futuro não houvesse mais nenhuma tortura.
A irracionalidade da tortura e das justificações apresentadas, levou os torturados a suportar a tortura, mesmo sendo ela irracional. Apenas alguns poucos gigantes e não-gigantes torturados insistiam depois que a cama de tortura e a tortura eram um absurdo. Isso era o que Procrusto mais odiava, pois ele ainda se revoltava com o fato de as pessoas não entenderem que ele não torturava por prazer, mas sim por uma necessidade histórica. Tendo em vista que, a fim de não mais ouvir as queixas e gritarias, ele sempre imaginava motivos para torturar, ele acreditava que, com o tempo, a história só podia ter um sentido se ela progredisse, e se tal progresso consistisse em ela ser sempre mais justa, e ela só seria mais justa se, a partir da desigualdade dos homens, ela se desenvolvesse em direção à igualdade deles. Enquanto isso, o jovem Teseu mudou-se de Tróia para Atenas, para ali se tornar rei, como filho de Egeu. Visto que ele concebia a política desde um ponto de vista prático novo, ele também veio a Korydallos. Lá ele ouviu e se admirou da Ideologia de Procrusto.
"Tu precisas admitir que eu estou agindo de maneira razoável", disse Procrusto, orgulhoso, "a própria Palas Atenas não soube me replicar". "Tu ages tão irrazoavelmente quanto Pitiocampto, o podador de abetos, quando ele corta o andarilho em dois, e os inserta nos troncos de dois abetos tortos e então os deixa crescer", respondeu Teseu. "A única diferença entre Pitiocampto e tu consiste em que ele não imaginava que devesse cortar em nome da justiça dos homens. Ele o fazia pelo puro prazer da crueldade". "Pitiocampto é meu filho", disse Procrusto, pensativamente. "Eu o matei", respondeu Teseu, tranquilamente. "Agiste corretamente", disse Procrusto, depois de longo pensar, "embora Pitiocampto fosse meu filho. Não é permitido matar pelo puro prazer da crueldade". Assim, enquanto Procrusto queria por agradecimento apertar a mão de Teseu, este jogou o gigante com tal força na pequena cama que a terra estremeceu. "Louco", disse, e segurou Procrusto, que lhe encarava com os grandes olhos, admirado. "Muito pouco você foi tocado pelo hálito da razão. As pessoas não são iguais, mesmo se não houvesse gigantes e não-gigantes, mas só gigantes, ou só não-gigantes. E porque as pessoas não são iguais, algumas maiores, outras menores, cada gigante tem o direito de ser um gigante, e cada não-gigante de ser um não-gigante. Ambos são iguais apenas perante a lei. Se tu tivesses introduzido esta lei, terias evitado que os gigantes dominassem os não-gigantes, ou, o que poderia bem ser o caso, que fossem os gigantes prejudicados pelos não-gigantes. Com isso, você teria poupado seus conterrâneos dessa tortura absurda". E, assim, Teseu primeiramente cortou as pernas de Procrusto e, porque este já era especialmente um gigante grande, cortou-lhe também a cabeça, que ainda murmurava ao ser decepada:
"Eu só estava sendo justo". E então a cabeça ainda disse, enquanto ainda estava em cima do pescoço, antes que os grandes olhos se fechassem: "Eu jamais fizera mal algum aos homens".
Depois disso, Teseu caminhou de volta para Atenas para junto de seu pai Egeu. Infelizmente, Teseu era não apenas um herói; ele era também esquecido. Ele esquecera-se, quando estava com Procrusto, que não matara apenas o seu filho Pitiocampto, mas sim também engravidara a sua neta, Periguna. Ele simplesmente se esqueceu de tudo. Seu lenço estava cheio de nós, era inútil. Ao regressar de Creta, ele esqueceu Ariadne na ilha de Naxos, que lhe salvara do labirinto, e assim esqueceu de levantar a vela branca, de modo que o seu pai atirou-se ao mar, porque ele pensou que Teseu fora morto pelo Minotauro no labirinto. Por causa disso, Teseu tornou-se rei. Infelizmente, ele também esquecera do seu inteligente discurso a Procrusto: não que ele fora particularmente um mau rei – ele está, de fato, bem colocado na escala dos reis – , mas abaixo dele nem todos eram iguais perante a lei, alguns mais iguais que outros. Isto porque Teseu também era esquecido como marido: seus amores, escreve Robert de Ranke-Graves, colocaram tantas vezes os atenienses em apuros que eles apenas reconheceram seu verdadeiro valor gerações após sua morte.

in Engelmann, B. & Jens, W. (1982): Klassenlektüre, Hamburg: Albrecht Knaus Verlag, pgs. 96-99. Tradução de Marco Antonio Franciotti e Celso Braida

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

É. PODE SER...

Mahmoud Ahmadinejad contra os clérigos iranianos

Os ataques contra Ahmadinejad e seus próximos têm sido brutais: Mashai foi acusado de feitiçaria e “espiritualismo”. Mais de vinte assistentes e conselheiros da Presidência foram presos sob a acusação de bruxaria. Porém o confronto não fica apenas no terreno religioso, o Parlamento solicitou a redução de ministérios
por Fahran Jahanpour

O início de abril, o presidente Mahmoud Ahmadinejad exonerou Heydar Mosleh, ministro da Inteligência. Alguns dias depois, foi forçado a reintegrá-lo, sob pressão do aiatolá Ali Khamenei, o Guia da Revolução. O que começou como um incidente acabou evoluindo para um confronto aberto entre os dirigentes da República islâmica.

É preciso saber que a Constituição do Irã funda-se em conceitos contraditórios. Por um lado, o sistema baseia-se na noção de velayat-e faqih: a tutela da mais alta autoridade religiosa, que governa em nome do Imame Oculto.1 A constituição dá ao Guia imensos poderes: como chefe religioso supremo, sua palavra é considerada de essência divina, e qualquer oposição é entendida como uma oposição ao próprio Deus, sendo passível da mais severa punição.
Por outro lado, o país é uma República baseada no sufrágio universal. A Constituição prevê eleições presidenciais e legislativas, mas o Conselho dos Guardiões tem de aprovar todos os candidatos. O Parlamento só pode legislar sobre a base da charia, e todas as suas decisões devem ser aceitas pelo Conselho dos Guardiões.
Mohammed Khatami, eleito em 1997, tentou reformar o sistema por dentro, introduzindo um pouco de democracia. O presidente defendeu a instauração de uma “sociedade civil” – em oposição a uma “sociedade religiosa” – e pleiteou em favor do Estado de direito, em vez da charia. Ele abriu a política externa, convidou para um “diálogo de civilizações” e deu alguns tímidos passos em direção ao Ocidente.
Ao fim de seus dois mandatos presidenciais, o aiatolá Khamenei estava determinado a não repetir o erro, evitando a formação de um novo governo reformista. Assim, em junho de 2005, com a aprovação dos “duros” do regime, dos Guardiões da Revolução e dos bassidji (jovens oriundos de meios desfavorecidos organizados em grupos paramilitares), o aiatolá apoiou um candidato pouco conhecido, especialmente no exterior: Mahmoud Ahmadinejad – então prefeito de Teerã e membro dos Guardiões da Revolução –, que foi eleito presidente.


O retorno à “pureza”
O novo presidente inaugurou um programa de redistribuição das receitas do petróleo em benefício dos mais pobres e prometeu um retorno à “pureza” dos primeiros dias da era Khomeini. Iniciou-se então uma campanha contra os reformistas: vários líderes e intelectuais foram presos, e o que restava das mídias reformistas foi proibido. Militantes, artistas, cineastas e defensores dos direitos humanos foram reprimidos, muitos deles presos, e suas atividades foram impedidas.
Os reformistas buscaram reorganizar-se para a eleição presidencial de junho de 2009. Eles pediram que Mir Hossein Mousavi, o popular primeiro-ministro em exercício durante a Guerra Irã-Iraque, os representasse. Mousavi ressuscitou vários slogans de Khatami, lançando um apelo às classes instruídas e reformistas. Segundo todas as opiniões independentes, ele teve uma retumbante vitória. Porém tudo mudou da noite para o dia, e o inacreditável se anunciou: Ahmadinejad ganhara por uma maioria esmagadora.2 Antes mesmo da confirmação dos resultados, o aiatolá Khamenei expressou publicamente seu apoio, qualificando as eleições de “bênção divina”.
Sentindo-se enganados, milhões de iranianos invadiram as ruas brandindo uma pergunta como palavra de ordem: “Onde está meu voto?”. Assim nasceu o Movimento Verde, e ganharam as ruas as maiores manifestações desde a revolução.3 Tentativas subsequentes não tiveram o mesmo sucesso, mas quando, na primavera de 2011, o regime afirmou que os levantes no mundo árabe inspiravam-se na Revolução Islâmica, Mousavi e seu aliado reformista Mehdi Karroubi chamaram o povo iraniano a se manifestar, no dia 12 de fevereiro de 2011, em honra às insurreições tunisiana e egípcia. Segundo algumas fontes, mais de 350 mil pessoas, desafiando a proibição das autoridades, foram às ruas em várias cidades, enfrentando balas e cassetetes. Houve dois mortos, muitos feridos e centenas de presos. No dia seguinte, o regime prendeu Mousavi, Karroubi e suas esposas.


O islã iraniano
Tudo parecia ir muito bem para Ahmadinejad, o qual pensou que poderia desfrutar de seu sucesso para conduzir uma política independente. Ele simplesmente esqueceu que governava pela graça de Khamenei e que “uma mão lava a outra”. E jogou um jogo perigoso.
Para reconquistar a confiança do povo perdida com as eleições, Ahmadinejad e seu amigo Esfandiar Rahim Mashai – nomeado vice-presidente em um primeiro momento e, depois, chefe do gabinete do presidente – começaram a invocar a história antiga do país e a falar em “islã iraniano”. Mashai desenvolveu a ideia de uma “escola islâmica iraniana”, afirmando que o xiismo é a mais perfeita interpretação do islã, pois se baseia na autoridade de guias espirituais, os imames. Além disso, os iranianos sempre foram monoteístas, e assim sua contribuição teria enriquecido consideravelmente o islã. Segundo ele, os iranianos têm uma “interpretação pura da verdade da fé e do monoteísmo islâmico”, e o Irã é “a própria encarnação da fé”.
Ahmadinejad apoiou as opiniões de seu colaborador. Quando o Museu Britânico emprestou ao país o cilindro de Ciro,4 ele discursou no Museu Arqueológico, elogiando Ciro, ao mesmo tempo fundador do Império Persa e um dos maiores guias morais da história da humanidade. Na entrevista de uma hora dedicada ao evento, pronunciou 45 vezes a palavra “Irã”.
Esses acentos nacionalistas suscitaram a cólera dos conservadores, que falaram em heresia. O aiatolá Mesbah Yazdi, ex-mentor e parceiro de Ahmadinejad, denunciou abertamente a ideia de um islã iraniano. Ele chegou a qualificar as ideias de Ahmadinejad de “escandalosas”, chamando o caso de “segunda sedição”, logo após a do movimento reformista.


Volta do Imane Oculto
As previsões de Mashai e Ahmadinejad sobre o iminente retorno do Imame Oculto constituem outro motivo de discórdia. No início deste ano, uma série de documentários, intitulada O reaparecimento é iminente, deu a entender que todos os acontecimentos mundiais – catástrofes naturais, guerras, levantes em países muçulmanos, recessão econômica etc. – eram sinais do retorno iminente do Imame Oculto. O conceito aproxima-se do milenarismo judaico e cristão, e os filmes, amplamente distribuídos, designam o presidente Ahmadinejad como a reencarnação de Shub’aib bin Salih, uma das figuras santas que acompanhariam o Imame Oculto.
O presidente e Mashai não poderiam competir com os títulos do aiatolá Khamenei e outros grandes clérigos, mas a vinda do Imame Oculto tornaria inútil todo o estabelecimento religioso, ao passo que o presidente estaria a seu lado para ajudar na fundação de uma nova era de paz e justiça em todo o mundo. Ahmadinejad sempre fez de sua devoção um grande espetáculo: ele começa todos os seus discursos com uma oração pelo retorno do Imame Oculto e teria até jogado uma lista dos membros de seu gabinete no poço da mesquita de Jamkaran, perto de Qom, onde se espera que o Imame Oculto apareça.
O aiatolá Mesbah Yazdi destacou que não cabia às pessoas comuns interpretar as tradições sobre o Imame Oculto ou prever o momento de sua reaparição. Outro alto religioso, Gholam Reza Mesbahi-Moghaddam, também expressou suas objeções: “Se, Deus nos proteja, Ahmadinejad quer dizer que imame Zaman [o Imame Oculto]apoia as ações do governo, ele está errado. O imame Zaman certamente não aceitaria a taxa de inflação de 20% nem outras disfunções hoje instaladas no país”.
Ahmadinejad e Mashai também lançaram uma campanha para minar a autoridade dos religiosos, retratando-os como homens separados do mundo moderno. Em 2008, Mashai organizou em Teerã uma cerimônia na qual mulheres tocavam tamborim, enquanto outras levavam o Alcorão a um pódio para recitar versículos do Livro. Os religiosos viram nesse espírito festivo, em particular na utilização da música, uma falta de respeito para com o Alcorão – para eles, isso estaria proibido pela charia. Mashai respondeu que eles são ignorantes e insensíveis. E afirmou que a música melhora as qualidades espirituais e purifica a alma, e que aqueles que não a sabem apreciar são piores que animais.


Conflito aberto
Assim, Ahmadinejad e Mashai deram a entender que o povo não precisa de religiosos para ensinar-lhes o islã. Enquanto seus antecessores mantinham estreitas relações com os grandes aiatolás de Qom, Ahmadinejad deliberadamente os manteve a distância. O presidente levou todo o seu gabinete em viagem para uma série de províncias, porém sua visita a Qom foi adiada várias vezes e, quando finalmente ocorreu, no dia 25 de maio de 2011, ele levou consigo apenas alguns ministros e não se encontrou com nenhum líder religioso.
Essas peripécias refletem uma luta entre, de um lado, Ahmadinejad e seu clã e, de outro, o aiatolá Khamenei e os altos clérigos – apoiados pelos principais líderes dos Guardiões da Revolução. Os ataques contra Ahmadinejad e seus próximos têm sido brutais: Mashai foi acusado de feitiçaria e “espiritualismo”. Mais de vinte assistentes e conselheiros da Presidência foram presos sob a acusação de bruxaria.
Porém o confronto não fica apenas no terreno religioso. Para diminuir a burocracia, o Parlamento solicitou a redução do número de ministérios. Ahmadinejad fundiu então o Ministério das Vias e Transportes com o da Habitação e Desenvolvimento Urbano; o da Energia com o do Petróleo; o da Indústria e Minas com o do Comércio; o da Proteção e Segurança Social com o do Trabalho. Mas o fez sem a prévia aprovação dos deputados sobre a escolha dos novos ministros. Além disso, nomeou-se ministro interino do Petróleo, num momento em que, pela primeira vez em 36 anos, o Irã obteve a presidência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
O Conselho dos Guardiões declarou ilegal a ação de Ahmadinejad, mas este rejeitou a decisão. Realizou-se, assim, uma reunião entre os líderes dos três poderes, em presença do Guia Supremo, que endossou a decisão do Conselho e exortou o governo a submeter-se; mas o presidente insistiu. No começo de junho, o Parlamento decidiu então trazê-lo à justiça por violação da lei. No dia seguinte, Ahmadinejad foi obrigado a nomear um novo ministro do Petróleo.
A luta encarniçada entre Ahmadinejad e Khamenei continua, sem nenhuma resolução à vista. Todas as opções estão na mesa: Ahmadinejad poderia renunciar, ser indiciado ou, na melhor das hipóteses, ser autorizado a continuar seu mandato, porém com menos poder.
No dia 2 de junho de 2011, Mohammad Reza Bahonar, primeiro vice-presidente do Parlamento, declarou: “Chegamos à conclusão de que o Mestre [Khamenei] estava pronto a assumir o firme compromisso de pôr fim a este governo; mas ele aparentemente deseja deixar que seus trabalhos continuem calmamente até o fim do mandato, de modo que o décimo governo termine naturalmente”.Ele exortou, porém, o governo a distanciar-se dos “movimentos dissidentes”, os que iniciaram as manifestações de junho de 2009. Condicional para Ahmadinejad?

Fahran Jahanpour
Ex-reitor da Faculdade de Línguas de Isfahan, no Irã, e professor associado da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Ilustração: Alves

1 Segundo a maioria dos xiitas, o 12º imame – da linhagem de Ali, o genro do Profeta, que morreu em 874 – não teria morrido, mas permanecido “oculto”. Para o aiatolá Khomeini, o Guia é seu representante na terra e dispõe de poder ilimitado. Essa teoria é contestada por outros aiatolás.

2 Ler “Iran’s stolen revolution” [Revolução iraniana roubada], Open Democracy, Londres, 18 de junho de 2009. Disponível em: www.opendemocracy.net

3 Ler Ahmad Salamatian, “Dans le chaudron du pouvoir iranien” [No caldeirão do governo iraniano], Le Monde diplomatique, julho de 2009.

4 Cilindro de argila datado de 539 a.C., no qual se lê uma proclamação do rei Ciro II.

(http://diplomatique.uol.com.br/index.php)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TEM QUE RIR PARA NÃO CHORAR


Lula morreu e foi para o céu.
Chegando lá, após breve entrevista, São Pedro recomendou que ele ficasse quinze dias na ala dos filósofos, para aprimorar sua cultura.
No dia seguinte, preocupado com a decisão que tinha tomado, São Pedro foi até a ala dos filósofos e pela fresta da janela surpreendeu Confúcio conversando com Lula:
- Quantas vezes vou ter de repetir? - dizia o grande filósofo, irritado:
- Epístola não é a mulher do apóstolo;
- Eucaristia não é o aumento do custo de vida;
- Encíclica não é bicicleta de uma roda só;
- Anus Sanctus não é o cu do Papa;
- Quem tem parte com o diabo não é diabético;
- Quem trabalha na Nasa não é nazista;
- Jesus Cristo morreu na Galiléia e não de gonorréia;
- E meu nome é Confúcio! Pafúncio é a puta que pariu, companheiro!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

SIMULINHO XII



1. “Tão logo subimos pela trilha íngreme que se desatava ao redor do monte, vi a abadia. Não me espantaram nela as muralhas que a cingiam por todos os lados, iguais a outras que vi em todo o mundo cristão, mas a mole daquele que depois fiquei sabendo ser o Edifício.”
(Umberto Eco, O Nome da Rosa.)
Os mosteiros cristãos se desenvolveram por toda a Idade Média. Neles, monges buscavam o isolamento e o espaço próprio para a busca interior. É correto afimar:
a) Os mosteiros foram construídos para funcionarem como universidades dedicadas ao estudo e à propagação dos filósofos da cristandade; ali, o conhecimento da filosofia grega e da medicina muçulmana foi adulterado em defesa da Igreja Católica.
b) No interior dos mosteiros, monges copistas reproduziam minuciosamente, por exemplo, os livros sagrados e as obras de alguns filósofos gregos cujo pensamento era compatível com a doutrina oficial do cristianismo.
c) A heresia ariana nasceu no interior de um monastério, das reflexões do monge alexandrino Ário, cuja crença estava em contemplar a vida perfeita do Cristo humano e em defender Pai e Filho como sendo da mesma substância.
d) Os monges eram eremitas, que abandonavam suas vidas mundanas em busca de paz e serenidade e se transformavam em soldados nas guerras contra os hereges, como os monges beneditinos que estiveram à frente da 1ª Cruzada.
e) Com o renascimento das cidades, durante a Idade Média, os mosteiros passaram a ser também um local de difusão dos ideais dos filósofos da antiguidade, chegando, anos depois, às mãos dos intelectuais da renascença.

2. Em 1637, o conde João Maurício de Nassau-Siegen se tornou governador e comandante militar das possessões holandesas do nordeste. Uma característica de seu governo foi
a) a tolerância religiosa; católicos e judeus que desejassem manter suas propriedades e atividades poderiam produzir como membros dos domínios holandeses.
b) a produção fabril; em seu governo a produção de açúcar refinado alavancou a indústria do Nordeste devido às fábricas de sacas de açúcar que se estabeleceram ali.
c) a intolerância; Nassau, para se manter no poder, expulsou os luso-brasileiros da região de Pernambuco e declarou guerra aos índios que defendiam suas terras para além do Meridiano das Tordesilhas.
d) o descaso cultural; Maurício de Nassau proibiu a entrada de artistas, cientistas e letrados, de qualquer nacionalidade, nas terras holandesas, o que atrasou, em muitas décadas, o estudo da fauna e da flora do continente americano.
e) a expansão territorial; o domínio holandês se estendeu até o Rio de Janeiro, criando um verdadeiro império holandês nas terras que antes pertenciam à coroa portuguesa.

3. O filósofo John Locke era filho de um puritano que lutou ao lado de Oliver Cromwell. A maioria de suas obras foi escrita no contexto da discussão política em torno da Revolução Gloriosa. Para Locke,
a) o estado de natureza seria o estado de guerra de todos contra todos. Não existiria propriedade, justiça ou injustiça, somente a guerra; e a forma de o homem livrar-se desses males seria a organização de comunidades submetidas a uma autoridade de poder ilimitado.
b) o governante deveria, em caso de necessidade, agir de má-fé ou com crueldade para se manter no poder. Isso não significaria deformação moral, mas estratégia de governo, pois o importante seriam os resultados obtidos. Só um líder que utilizasse a força como princípio, em momentos conturbados, poderia manter seu governo.
c) o estado de natureza seria o estado de liberdade, no qual os homens viveriam sem qualquer tipo de poder. O governo seria um remédio contra os males gerados pelo fato de, em estado de natureza, cada homem ser juiz em causa própria e atacar as propriedades de outrem.
d) o “homem nasce livre, e por toda parte está em cadeias”. Era preciso lutar pela liberdade, parte da natureza humana, pois renunciar à liberdade seria renunciar a ser homem. A base da prática política seria um contrato em que caberia à sociedade escolher seu governo.
e) o absolutismo seria a forma de governo mais adequada às necessidades do homem. A defesa dessa forma de governo se dá pelo fato de o monarca possuir o direito natural, dado por Deus, de governar os homens em defesa de um bem comum.

4. Analise as afirmações sobre a Revolta dos Alfaiates, movimento ocorrido na Bahia em 1798.
I. Iniciou-se a partir de um núcleo de letrados e oficiais que se reunia numa sociedade secreta denominada Cavaleiros da Luz, razão pela qual os historiadores a consideram como elitista.
II. Inspirados nas medidas adotadas na França pós-1792, período em que as investidas dos revolucionários franceses tornaram-se mais radicais, os manifestantes distribuíam panfletos falando da libertação de mulatos e negros e da abolição da escravidão.
III. Nessa revolta, as punições não foram estabelecidas de acordo com a condição social dos envolvidos. Tanto as pessoas de “mor-qualidade” quanto alfaiates, soldados, mulatos e escravos pagaram por sua ousadia, sobre o cadafalso da forca.
IV. Ao contrário da Inconfidência Mineira, essa revolta não foi uma conspiração de elite, pois a maior parte dos revoltosos era composta por escravos, artesãos e soldados.
É correto o que se apresenta apenas em
a) I e II.
b) I e III.
c) II e III.
d) II e IV.
e) III e IV.

5. "Batata assata al furn
Batata assata al furn!
A tostón o pedaço!
Melanzia barata
Come, bebe e lava a cara!
Ma que bela tomata
da chacra mia!
Liberté, Egalité, Fraternité, Vassouré!"
(Ecléa Bosi, Memória e Sociedade – lembrança de velhos.)
Uma cena marcante no espaço urbano no início do século XX eram os pregões dos vendedores de rua. Vendedores ambulantes passavam pelas ruas das cidades oferecendo seu produto, gritando versos, para serem identificados. Esses pregões caracterizavam-se
a) pelos diferentes sotaques, em decorrência da influência dos imigrantes na cultura de várias cidades brasileiras.
b) pelas dificuldades econômicas vividas pelos vendedores de rua, que, apesar de muito gritarem, pouco recebiam em troca.
c) pelo baixo nível educacional dos habitantes dos centros urbanos, uma vez que os ambulantes mal sabiam se comunicar em suas quadrinhas.
d) pela inexistência de centros comerciais, o que dificultou o crescimento econômico dos centros urbanos brasileiros.
e) pela má qualidade dos produtos vendidos, já que eram oferecidos nas ruas sem nenhum cuidado higiênico.


GABARITO
1b; 2a; 3c; 4d; 5a

ANA, ERA UMA VEZ...

 O astrônomo

Um astrônomo gostava de fazer passeios noturnos para olhar as estrelas. Certa vez ia tão distraído que caiu num poço. Enquanto tentava sair, seus gritos de socorro atraíram a atenção de um homem que passava. Ao ser informado do que havia acontecido, o homem riu e disse:
- Meu bom amigo, tanto o senhor se esforçou para olhar o céu que não lembrou de olhar o que tem debaixo dos pés!

Moral: É fácil deixar de ver o óbvio.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

SIMULINHO XI

 1. Organizada com base na exploração estabelecida pelo
mercantilismo metropolitano espanhol, a sociedade
colonial apresentava, no topo da escala hierárquica,
a) os criollos, grandes proprietários e comerciantes
que, por constituírem a elite colonial, participavam
das câmaras municipais.
b) os chapetones, que ocupavam altos postos
militares e civis.
c) os calpulletes, que ocupavam altos cargos
administrativos dos chamados ayuntamientos.
d) os mestiços, que, por serem fi lhos de espanhóis,
podiam estar à frente dos cargos políticoadministrativos.
e) os curacas, donos de grande quantidade de terra,
que administravam os cabildos.

2. Se levarmos em conta que os colonizadores
portugueses mantiveram um contato maior com
as nações tupi, podemos dizer que as sociedades
indígenas brasileiras viviam num regime de
comunidade primitiva, no qual
a) não existia propriedade privada, pois os únicos
bens individuais eram os instrumentos de caça,
pesca e trabalho, como o arco, a fl echa e o
machado de pedra.
b) cabia aos homens, além da caça e da pesca,
toda a atividade agrícola do plantio a da colheita.
c) cada família tinha a sua propriedade, apesar de
todos trabalharem para o sustento da comunidade.
d) a economia era planifi cada, e todo o excedente
era trocado com as tribos vizinhas.
e) tanto a propriedade privada quanto a agricultura
de subsistência e a divisão de trabalho obedeciam
a critérios naturais, ou seja, de acordo com o sexo
e a idade.

3. Preparado por uma comissão especial liderada
por Bernardo Pereira de Vasconcelos, após longos
debates na Assembléia Geral, foi promulgado, em
18/08/1934, o Ato Adicional à Constituição do Império,
que promovia mudanças, como
a) a criação de Conselhos de Estado em substituição
às Assembléias Legislativas Provinciais.
b) a criação de uma Regência Trina Permanente,
eleita por voto indireto, para governar até a
maioridade de D.Pedro de Alcântara.
c) diminuir a autonomia que era dada às províncias.
d) a criação do Município Neutro, independente da
Província do Rio de Janeiro.
e) a substituição da Regência Una por uma Regência
Trina, sendo esta escolhida por meio de eleições
gerais.

4. "Eu poderia ter transformado esta sala num campo
armado de ‘camisas negras’, um acampamento
para cadáveres. Eu poderia ter costurado as portas
do Parlamento."

(Benito Mussolini, 16/11/1922)
Esse discurso
a) instaurou um governo nacional socialista e democrático
na Itália, em oposição ao governo fascista
do Rei Vitor Emanuel III.
b) atacou a inoperância do Parlamento Socialista
Italiano, que emperrava as reformas políticas e
sociais propostas pelo Partido Fascista Socialdemocrata
italiano.
c) marcou a despedida do cargo de deputado exercido
por Mussolini, que, a partir daquele momento,
começou a lutar na região de Piemonte para
derrubar o Rei.
d) defendeu o fi m do governo absolutista do Rei
Vitor Emanuel III e a criação de uma Monarquia
Parlamentar nos moldes da República francesa.
e) instaurou um novo governo, cuja maioria pertencia
ao Partido Fascista Italiano, o qual ocasionou
o fim da democracia parlamentar e a formação
de uma ditadura fascista.

GABARITO
1b; 2a; 3d e 4e.